inerência da linguagem mormente na página branca: a potência da semente, a semântica do mote cotidiano, sem planos. poesia para o enfrentamento do que inexiste, mas urge. grafias caboclas e indígenas por ascendência, oriundas de uma terra feita de águas intensas. poemas registrados na Fundação Biblioteca Nacional - RJ
sábado, dezembro 24, 2011
Uma Outra Primavera
segunda-feira, dezembro 12, 2011
Beleza Verdadeira
faz tinir a brevidade do riso
escolhe correr pelas calçadas
alça teu voo rasante
diante da plateia distraída.
Faz do escuro um rescaldo nítido:
acena para a longínqua explosão
inevitada, e afaga teu coração,
alarga teu coração, alegra teu
coração ao sangramento - que
é dentro onde crestam luzes.
Deixa tudo ser à solitude:
abençoa os rudes, compreende-lhes
a verossimilhança, a criança
amuada dos dias difíceis.
Opera teu júbilo secreto, e apesar
resolve o pulsar na entrega
incondicional da beleza verdadeira.
sexta-feira, outubro 28, 2011
Oração
sábado, outubro 08, 2011
Pilatos Song
segunda-feira, agosto 01, 2011
Recado para G.H.
É bem provável que, no escuro abandonado
permaneça o ignorado perfume do que és,
o baixo relevo dos teus pés fincados antes
que o caminho brotasse, tua prima fonte.
É possível até que, dos princípios esquecidos
restem senhas, hieroglifos que apontem os fins
de tanta ânsia, e assim reconheças,
antes que desapareça, a tua vera miragem.
É capaz então que, à tua estreita passagem,
suceda lograres saber sem medida –
O estofo da vida te será visível
tal como o nível inconstante das marés.
segunda-feira, julho 11, 2011
Provérbios
quando cresce a olhos vistos
os seus cistos
sua impáfia muda, seu
escudo avaro.
O barato sai mais caro
se precário seu legado
se passada a validade
sua idade aguda,
o seu novo engodo.
Todo santo ajuda a queda
quando a perda surpreende
se entende-se
a verdade,
sua lei muda, sua
gravidade.
segunda-feira, maio 02, 2011
Reinado de um homem no chão
"Meu reino por um cavalo!" - disse uma vez o monarca,
atado ao chão por uma arcada, a outra
atracada num céu deserto.
"Meu trono por um galope qualquer!" - diria mais tarde,
os olhos ardentes de água, tolo e
afogueado, no dia de sua estrela.
Eram dias daquela crença firme em cavalos alados,
e que o mínimo trotar tornava qualquer homem
num centauro lúbrico, irresistível.
"Meu chão por qualquer pasto invisível!" - rugiu na madrugada,
mas nada o demovia daquela ideia de que era um faminto.
Sentia nos ossos esbaterem-se borbulhos, a medula íngreme,
um instinto de morte, ou qualquer sorte modesta.
A festa de seu povo já estourava longe na manhã.
Foi quando se deu a perceber entranhado no chão, os pés
feito raízes aéreas, e outras forças etéreas evolando-se
através dos olhos e da boca, uma canção esquecida pairava,
a roca lendária fiava seu destino lírico, a aldrava em silêncio.
Renascia.
terça-feira, abril 05, 2011
Canto Tonto
tenho em mim um labirinto
cuja natureza minto
ao compor esta canção
tão cansado das esquinas
da trapaça das neblinas
sigo o rastro que destina
ao encontro da razão
e resolvo a talho cego
todo enigma que nego
tanto que o desassossego
me acompanha desde então
desde antigos carnavais
onde máscaras e ais
eram enredos desiguais
descompasso da ilusão.
não se preocupe tanto
só me dê esse desconto
canto, e posso por enquanto
não ter qualquer direção
contudo, não me contento
em soprar aos quatro ventos
sei que a qualquer momento
meus pés vão tocar o chão
mas meu pouso será breve
tenho a consciência leve
e o que digo só se escreve
com tinta do coração
não careço, então, de pena
de tudo o que me condena
reconstruo meu poema
dilema sem solução.
quinta-feira, janeiro 20, 2011
Intuição
os prazos são curtos
há curto-circuitos na indecisão
por isso entrego-me
ao cego percurso
ao mais puro intuito, e à intuição
com a inteireza
dos cinco sentidos
e o infinitivo verbo do querer
a quem interessa
recursos sem preço,
amores sem pressa, eis meu parecer:
conheço vestígios de sangue e fuligem
no que se alvoroça o viço recente,
e vejo na espera a fera que dorme
no óxido disforme, na paz do descrente.
o que desconheço deixo enviesado,
meu vício calado é olhar bem no fundo,
na dura quimera queimada a balaço
douro meu cansaço nas dores do mundo.
Quem sou eu

- Renato Torres
- Belém, Pará, Brazil
- Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.