terça-feira, abril 05, 2011

Canto Tonto

não se ocupe do que sinto
tenho em mim um labirinto
cuja natureza minto
ao compor esta canção

tão cansado das esquinas
da trapaça das neblinas
sigo o rastro que destina
ao encontro da razão

e resolvo a talho cego
todo enigma que nego
tanto que o desassossego
me acompanha desde então

desde antigos carnavais
onde máscaras e ais
eram enredos desiguais
descompasso da ilusão.

não se preocupe tanto
só me dê esse desconto
canto, e posso por enquanto
não ter qu
alquer direção

contudo, não me contento
em soprar aos quatro ventos
sei que a qualquer momento
meus pés vão tocar o chão

mas meu pouso será breve
tenho a consciência leve
e o que digo só se escreve
com tinta do coração

não careço, então, de pena
de tudo o que me condena
reconstruo meu poema
dilema sem solução.


28 comentários:

antes blog do que nunca! disse...

(D)escreves uma vida que é passo veleiro, a navegar nas águas soltas de ser. Sê, querido amigo e (en)canta.

1 Bj*
Luísa

Lígia Saavedra disse...

Renato,há uma melodia nos seus versos que embeleza ainda mais as palavras. Talvez o alvo sentimento que sempre rima com sua poesia determine esta magia.

Bj

Ricardo Mainieri disse...

O poema tem vida própria, independente da canção que vá vestí-lo.
Extremamente sonoro, com metáforas novas, constrói uma ponte entre as imagens e a sonoridade.
Muito bom.

Abs.

Ricardo Mainieri

bichodagua disse...

Rê, muito lindo!

oavessodaletramorta disse...

Rê,

gostei demais do ritmo desse escrito, que aliado à "verdade" que traduz, arrebatou...

fiquei interessado em musicar, deixaria?

abraço!!
Felipe Cordeiro

Anônimo disse...

Renato,

fui pego pelo ritmo do escrito, que aliado à "verdade" que traduz, arrebatou...

fiquei interessado em fazer uma música, deixa?

abraço!
Felipe Cordeiro

Renato Torres disse...

Lua,

é meu intento, desde sempre, ser. ser ao máximo que puder, nesta existência cega. quando conto com luzes amigas como a sua, vejo que o esforço vale a pena.

beijos,

r

Renato Torres disse...

Lígia,

este alvo sentimento é, por vezes, um sentimento-alvo; uma meta a ser alcançada, ou ainda, um elemento vulnerável, passível de ser alvejado pelos disparos de meus pares, e ímpares. aviso ao leitor para que "não se preocupe", mas o faço já chamando sua atenção à minha vulnerabilidade.

beijos,

r

Renato Torres disse...

Maini,

acredito no poema que quer ser música, mas mesmo assim sobrevive como poema. recebi certa vez uma crítica a um poema meu, e o crítico falava das "metáforas diretas" que uso, desclassificando-as, como "artifícios em desuso". ora, morrerei acreditando nas metáforas, quer elas sejam diretas ou não! que bom que olhos amigos como os teus podem olhar com mais generosidade ao que quase anonimamente escrevo...

abraços!

r

Renato Torres disse...

renata,

a beleza é a visita de leitores sensíveis.

beijo,

r

Renato Torres disse...

Felipe, querido...

nem precisas pedir licença, parceiro! fique à vontade. já achava até que nunca mais faríamos algo juntos novamente... que bom que me enganei!

abraços!

r

Tere Tavares disse...

Com a palavra a desfolhar-se em canção...
Re-novas esferas Re-nato.

Abraço

edson coelho disse...

e resolvo a talho cego
todo enigma que nego:
é um tipo de suicídio para a vida, não? rota de riscos onde a intensidade se deslumbra. então aproveite a vida do início ao fim do início ao fim do início...

Renato Torres disse...

Tere,

a palavra,ultimamente em meu trabalho, tem sido irremediavelmente contaminada pela estrutura da canção, mesmo sendo escrita sem nenhuma melodia pré-concebida. não vejo isso com maus olhos, sem dúvida, e até gosto de deixar essa possibilidade sempre aberta nesse tipo de texto. aqui mesmo já há um (grande) compositor disposto a desbastar seu canto íntimo.

beijos,

r

Renato Torres disse...

Edson,

deste ponto de vista que colocas, creio que a vida toda é uma sequência de suicídios. nos pomos em riscos cada vez maiores, porque é preciso que morramos sempre, por nossas próprias mãos, de preferência, para que alguém novo advenha.

abraços, amigo...

r

Renata de Aragão Lopes disse...

Músico e poeta:
eis o belo resultado!

Gostei muito daqui.

Um abraço,
Renata
Doce de Lira

Renato Torres disse...

olá Renata,

um grande prazer receber novos leitores, ainda mais sendo também poetas! tenho grande apreço por meus amigos de Minas, fique bastante à vontade para ir lendo as coisas que publico aqui em minha Página Branca.

abraços,

r

Unknown disse...

Que delicia, muito bem composto (como sempre), escrito e descrito.

saudade de ti


beijo

Renato Torres disse...

Alma,

saudades também! há quanto tempo não vinhas fazer um comentário aqui na Branca... vou te visitar!

beijo,

r

Anônimo disse...

Muito boa sua iniciativa de divulgar seu blog aos funcionários do Centur.

Gostei muito dessa composição.

Alexandre (Braille)

Renato Torres disse...

Olá Alexandre!

na verdade, a iniciativa não foi minha, foi do Nonato da NTI... mas estou realmente feliz que já tenha atraído um colega de trabalho! volte sempre!

abraços,

r

dilita disse...

Cada vez mais verificamos que o mundo é pequeno... O Atlantico enorme não é superior a um "insignificante" clic mercê do qual eu posso apreciar a sua poesia. Gostei muito deste canto tonto,que de tonto discordo...
Voltarei.
Saudações.
de Portugal Dília Maria

Renato Torres disse...

querida amiga Dília de além mar!

mesmo antes dos clics virtuais, a poesia já vencia barreiras oceânicas, desérticas, continentais, mundiais, extraterrenas. isso porque a poesia é a energia original, o verbo que fez (e faz) nascer universos. feliz demais com tua visita e teu gostar.

um abraço fraterno!

r

dilita disse...

Olá Renato.
Certa sua afirmação. A poesia é maravilha que trânscende.
Porém eu referia-me ao facto da técnica actual nos permitir em escassos segundos,se quisermos,
conhecer arte "acabada de nascer" no caso da sua poesia(por exemplo)

Hoje,tudo está perto,e ao alcance...
Sou do tempo que ler Guerra Junqueiro era proibido,mas o meu pai ofereceu-me os livros...(felizarda eu)

Um abraço:voltarei.
Dilita

Renato Torres disse...

Dilita,

esteja sempre à vontade para voltar e estar entre os versos desta página branca.

abraços,

r

Dôra disse...

Canto tonto cheio de enCANTO!
Tenho dentro de mim um labirinto...por enquanto, amo tudo o que compões nessas linhas!

Renato Torres disse...

Dôra,

feliz mesmo com teu gostar... esteja sempre à vontade!

beijos,

r

Renato Torres disse...

Julia,

também sou seu fã! e parceiro, lembras? vou visitar teu blog...

beijos e saudades!

r

Quem sou eu

Minha foto
Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.