da
janela do exílio
vejo
o martírio lento da população
a
dar de ombros, ou simplesmente
a
não ter escolhas: é preciso trabalhar
suas
panelas vazias recolhem
a
água da única torneira comunitária
e
aguardam o momento
de
cozerem algo de comer
(não
há tempo ou chance de bater
porque
é preciso ter água)
de
um palanque de privilégios
vejo
o sacrilégio de outra parte da população
que
mal vê o que de fato os infecta:
a
sombra abjeta da abominação
em
não perceberem-se parte
de
sua própria cidade, de seu próprio povo
de
um isolamento novo
(aquele
que foi decretado, imposto pelo jugo)
os
navegantes virtuais elegem
seu
verdugo predileto, seu dileto inimigo
e
põem-se voluntariamente
ao
abrigo da tecnologia, sentindo falta
de
como se isolavam antes
no
país dos distantes
me
vejo diante da morte iminente:
o
egoísmo coletivo, primo do inconsciente
sobe
ao cadafalso, o pescoço atado a laço
aguarda
o salto no escuro mistério
da
vida que a morte traz pelo braço.