quarta-feira, junho 07, 2017

Guamorto

à memória dos mortos pela milícia


só existe uma sina
permane
nte
no bairro onde moro

e nasci: a c
hacina
de gente, de
pobre
de preto, de pa
rdo
de qualquer desavisado
na esquina



sempre a mesma cena
deprimente
no barro, n
a piçarra
no asfalto quente: obscena
de frente, pelas
costas
súbita, alardeada
entre o toque de recolher
e a novena


só insiste, assassina
recorrent
e
porque há quem aplauda (e vote):
(n)o gatilho mu
do e encapuzado
(n)o disparo na madr
ugada
enquanto dormem
o sono dos justos

na latrina

terça-feira, março 21, 2017

Arvoreser


do menino
de cuja cabeça
brotam árvores
quando lê
não sei muito:

mas sei que livros
são feitos de árvores mortas
cuja vida reaparece
quando as palavras brotam
em suas folhas

sei que folhas
são comuns
a árvores e livros
e que falhas
são comuns
a homens livres

do menino
de cujos livros
brotam cabeças leves
quando escreve
sei este algo:

a vida é o jogo
entre plantar e colher
e em cada folha solta
estão árvores-livros
em silencioso alvoroço.

quarta-feira, janeiro 04, 2017

2016/2017


por vocês, que por mim passaram
anos de pedra e de vento
a conta dos acontecimentos ressoa
em cada folha que voa
sobre os olhos da criança que fui


porque esperei por cada um
com luz acesa e esperança
e o alimento dos sonhos
na chuva leve que cai
pelos ombros de janeiro
até o desabrochar dos dias 

inteiros

cordilheiras de horas erguidas
sobre as feridas curadas
na despedida e na chegada
em que te acolho
revolvido

como um feixe de terra
cerzido à mão, semeado
me entrego cultivado
aos cuidados do devir


a vocês, ponteiros de Cronos
grãos de areia escorreitos
ofereço o leito semovente
o diamante sem tempo
dos viajantes: prosseguir
a estrada é o rumo
viver é sempre chegar
e partir.

Quem sou eu

Minha foto
Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.