quarta-feira, junho 07, 2017

Guamorto

à memória dos mortos pela milícia


só existe uma sina
permane
nte
no bairro onde moro

e nasci: a c
hacina
de gente, de
pobre
de preto, de pa
rdo
de qualquer desavisado
na esquina



sempre a mesma cena
deprimente
no barro, n
a piçarra
no asfalto quente: obscena
de frente, pelas
costas
súbita, alardeada
entre o toque de recolher
e a novena


só insiste, assassina
recorrent
e
porque há quem aplauda (e vote):
(n)o gatilho mu
do e encapuzado
(n)o disparo na madr
ugada
enquanto dormem
o sono dos justos

na latrina

4 comentários:

Soc Ferreira disse...

A beleza e amargura da poesia cortando a carne! A arte servindo à denuncia, à manifestação da indignação. Parabéns caro amigo!

Renato Torres disse...

Socorro,

morando no Guamá, jamais minha poesia poderia não ser afetada por ele, e pelo que acontece nele... te agradeço por vir e comentar...!

beijos,

r

Wagner Leite disse...

O Guamá
O Jurunas
A Terra firme
As baixadas de Belém
Lar onde nascemos crescemos
E onde vimos muitos se perderem no caminho
O poder e a polícia sempre foram inimigos claros mas o pior inimigo é a falta de oportunidade essa é mais impiedosa que os revólveres

Renato Torres disse...

Wag,

oportuna é a morte, a cada dia. havemos que tomá-la pelo seu mais valoroso sentido: o de transformação. uma ação que modifica o ambiente, e a nós mesmos, intimamente.

te agradeço por comentar, mano!

abraços,

r

Quem sou eu

Minha foto
Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.