para Lou Reed
trincam-me os dentes à noite
rachando sob o peso dos sonhos
o seu mármore inquieto range
sob o firmamento calado
entre o ronco e o enfado
o estômago aflige o esôfago
num afago ácido de onda
demanda de si a barganha
da rinha cotidiana irresoluta
inflama a luta desigual
entre o possível e o improvável
rompe, do siso ao juízo,
o seu improvisado diamante
dentifrícios e antissépticos
ardem sua fogueira deliberada.
trancam-me os dentes à chave
pra fora do corpo dormente:
lá dentro esbatem-se as palavras
como minúsculas serpentes sob a língua
(na água escura da noite gemem
como as tábuas de um velho barco)
sob o arco abobadado, cravado
de aftas e abcessos, assoma o recomeço
um acesso cauterizado pela dor
a arca corroída se abre em nervos
através do canal devastado
malgrado o dever involuntário
da moenda e guilhotina diárias
a arcada dentária enverga
sua moldura identitária no riso
ou na fúria que nela se imprime -
ou reprime - num bruxismo insone.
trincam-me os dentes à noite
rachando sob o peso dos sonhos
o seu mármore inquieto range
sob o firmamento calado
entre o ronco e o enfado
o estômago aflige o esôfago
num afago ácido de onda
demanda de si a barganha
da rinha cotidiana irresoluta
inflama a luta desigual
entre o possível e o improvável
rompe, do siso ao juízo,
o seu improvisado diamante
dentifrícios e antissépticos
ardem sua fogueira deliberada.
trancam-me os dentes à chave
pra fora do corpo dormente:
lá dentro esbatem-se as palavras
como minúsculas serpentes sob a língua
(na água escura da noite gemem
como as tábuas de um velho barco)
sob o arco abobadado, cravado
de aftas e abcessos, assoma o recomeço
um acesso cauterizado pela dor
a arca corroída se abre em nervos
através do canal devastado
malgrado o dever involuntário
da moenda e guilhotina diárias
a arcada dentária enverga
sua moldura identitária no riso
ou na fúria que nela se imprime -
ou reprime - num bruxismo insone.
10 comentários:
Tudo é motivo para poesia. Até a dor...
Maini,
a dor seja, talvez, o principal deles...
abraços!
r
Bruxismo insone é o mais destruidor... Do apertamento ao desgaste irreversível!
Bjo amigo. Saudade. Maravilhoso.
Lindo amigo!! Lindo!
Bibi,
feliz com teu gostar, e tua visita a esta minha esquecida casa de palavras...
beijos,
r
Obrigado por partilhar a contundência de sua poesia.
Marcela,
nossos dentes trincados são a comporta em ruínas da contemporaneidade... havemos de ultrapassar essa condição.
beijos e saudades, sempre!
r
Z.A. Feitosa,
e eu agradeço a generosidade em visitar e comentar.
abraços!
r
Se o Lou pudesse ler estes versos diria:
Minhas cagadas são melhores que os diamantes de outros
Wag,
hahaha, sim! e diria que os dentes podres são o sorriso do lado selvagem...
beijos,
r
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