quinta-feira, agosto 25, 2005

a pele

sempre escolho ficar aqui, onde há terra que piso
e onde sombra meu espanto, onde há ferida que
ronda o orgulho, erguido em paisagem dolorosa.

teimosamente encolho a rosa que se quer
desabrida e sem abrigo, à mercê de ser,
tão fulminante e bela, diamantes de minutos
sem subterfúgios, até que por si só ela
recolha seus encantos, e baixe a cabeça
lentamente, como quem morre satisfeito.

sempre embrulho meu próprio coração
em grossos papéis rudes de medo, e
volto a encarar, sem rosto, a chuva
que segue amolecendo tudo o que se
cobre, a lenta descoberta feita de
primaveras que irrompem em erupção.

a pele do que se esconde então arde
ainda que seja mouco o mundo,
ainda que manque a palavra desdita

sob a escrita dura do que seja tarde.

(escrita em dois atos, na contracapa do livro "aprendendo a viver", de clarice lispector... ainda não aprendi).

3 comentários:

Anônimo disse...

renato, o que são esses quatro últimos versos?! essa megera da clarice arruinou nossas vidas!

e sinto saudades, ouviu? mas ouviu mesmo? vou dar um jeito de rasgar a realidade pra ir lá no moderno qualquer manhã dessas te ver cantar.

beijos.

Anônimo disse...

"...e baixe a cabeça
lentamente, como quem morre satisfeito..." que louco, estremamente eloqüênte!!!
Morrer satisfeito lembra algo impróprio para este horário que estou escrevendo, se fosse madrugada, talvez me permitisse mais adentrar nesta morte...
Já percebi Renato que você é fissurado por Clarice, não conheço nada dela, além de uma clássica carta que poder ser lida investida e um poeminha que ela diz que quando criança seu pai pintou sua casa de alaranjado e parecia que sempre estava amanhecendo(bem lindinho)... Agora tô conhecendo um pouquinho mais aqui pelas suas paginas quase todas brancas...
Sucesso!
Vanusa.

Anônimo disse...

"sempre embrulho meu próprio coração em grossos papéis rudes de medo"

Um tanto familiar...

Te amo!

Quem sou eu

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Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.