segunda-feira, setembro 05, 2005

fio de sangue

desfiz o fio de sangue que me deste
e que trazia atado ao pulso destro
mas sem despir, contudo, o que me veste
o agasalho morno do que sinto

longe de ti, no fundo labirinto
deponho a sanha rija que consome
e ao pé de mim, sei bem o que não minto:
a fome, a fé, a faca, o fogo claro

seguro nas mãos o segredo raro -
um punhado de relva corriqueira
escondo em aparente desamparo
a inteireza materna da terra

meu pulso nu, que a nada mais se aferra
meu coração, estampido vermelho
lutando anônimo em perdida guerra
o espelho insistindo no que existe

...e eis que o fio de sangue 'inda resiste.

4 comentários:

Anônimo disse...

renato,

qual a mágica empreendida sobre o silêncio entre nós - poetas, carne e osso, homens -, capaz de tornar o silêncio em aperto tão firme? que faz dos espaços vazios unidade, união, poesia eloquente? como é que a tua boca, mesmo sendo tua, fala por tantos outros?

digo isso porque esse foi outro daqueles teus poemas que, juro, poderiam estar na minha lápide ou carta de suicídio. (tão previsível! mas antes a mesma dor doer pra sempre do que alternar várias de plástico.)

as coisas estão mudando? amadurecendo. acho que é preciso sorte no decorrer do caminho, mesmo já sabendo onde vai dar (as espirais...). a gente sabe onde vai dar desde o começo, não é mesmo? ...ah, saudades...

luadepedra disse...

"sem despir, contudo, o que me veste"
Aqui encontro a essência da tua alma a brindar a existência, querido Renato.

1 Bj*
Luísa

Renato Torres disse...

lóri,

tão gratificante reler o teu comentário, numa identificação profunda, numa doação a um só tempo fraterna e amorosa... as coisas mudaram, sem dúvida. mas permanece a verdade do que disseste: "antes a mesma dor doer pra sempre do que alternar várias de plástico".

um beijo,

r

Renato Torres disse...

Luísa,

a essência da minha alma, aqui encontrada por ti, é de uma dor profunda. mas também de um grande amor. existir é mesmo um enfrentamento.

um beijo,

r

Quem sou eu

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Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.