sexta-feira, julho 22, 2005

Amarcord

faço versos como quem lambe
a delicada lâmina afiada
sobre o doce dorso da língua.

faço versos como quem míngua
na escuridão da casa vazia
donde a fera voraz se nutre.

faço versos como quem supre
a si mesmo, sob imensa febre,
sob o credo de tal choque.

faço versos como quem sopre
a brasa moribunda do fogo,
à fervura branda do sangue.

faço versos como quem, lânguido,
inconsciente, empalidece,
a delirar numa prece dúbia.

faço versos como quem nubla
a visão do caminho à sorte,
transfigurando a morte em lenda.

eu faço versos como quem lembra.

4 comentários:

Anônimo disse...

gostaria de dizer, apenos, que gosto muito do que vc escreve. não necessariamente do que leio, se é que me entende, mas do que sinto, do que se torna rítmico, e as palavras, as palavras..............

Fabiana Leite disse...

lindo verso,
título preciso.

Primeiro eleito,
do passado rumo ao futuro.

Esse poema clama,
roga,
suplica
para tomar corpo de livro...

Renato Torres disse...

Marisa,

mesmo depois de tanto silêncio, é possível sentir a verdade do que dizes... realmente o que escrevo não precisa ser gostado, mas sentido; que o gosto seja do sentido, e não apenas a mera apreciação formal de um poema. quem dera meus leitores fossem sempre nessa direção...! eis uma íntima quimera...

beijos,

r

Renato Torres disse...

Fabiana,

escrevi esse poema influenciado por Fellini, logicamente, mas menos pelo filme do que pela sua explicação do significado da palavra Amarcord - que no dialeto da região de Rimini (como não lembrar da palavra "reminiscência"?), de onde veio, quer dizer "eu me recordo". o filme, é claro, trata da memória. e eu penso que escrever é, mesmo, lembrar...

um beijo,

r

Quem sou eu

Minha foto
Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.