quinta-feira, agosto 08, 2013

Poemas paulistanos


desse olhar que me escapa
na descida do metrô
desse, onde não estou
na frondosa fonte decepa
o horizonte, o mirante, o pátio
do átrio mudo, esbraveja
de um copo de cerveja, inveja
a peleja sem entrega da fronte
diante do ato frio na multidão

dessa solidão resignada
donde a cortesia sofre o corte
da enxada entrincheirada
de certo desejo ou flerte
com a morte, a sorte, o ensejo
desse olhar em que não vejo
a mim ou ao outro, ensimesmado
arrumo os dentes enfileirados
sobre os lábios entreabertos
sem saber ao certo onde termina
o que imagina e o que desperto

desse olhar, o deserto sobreavisa
e pisa o peito no que resvala
e cala, suspeitando que comunica
o mínimo esgar do que não distraia
do que não caia na vala comum
dos desafetos da grande cidade
onde arde arde arde a sutura
entre a noite escura e o dia
no mais fundo que não sossega
na mais rasa filosofia.


6 comentários:

Tere Tavares disse...

Uma urdidura de treliças. Parabéns

Ricardo Mainieri disse...

Uma peça poética onde se destaca o extremo cuidado com a musicalidade e pela feitura num ritmo entrecortado.
Nela estão os achados & assombros com a grande cidade.
Ninguém passa imune por Sampa. Eu mesmo tenho uma meia dúzia de poemas falando das sensações que a cidade me proporcionou.
Somos todos passageiros de uma trip que vai do Paraíso à Consolação.

Abração.

Ricardo Mainieri

Patrícia Rameiro disse...

meusdeuses do céu, da floresta, do mar e dos olhares belos e paulistanos dessa vida!
esse aqui por certo e por fim e por hora está mais que certamente entre meus cinco ou dez mais prediletos favoritos de todas as coisas entre as coisas preciosas que vem de você e chegam até mim.

te amo!

p

Renato Torres disse...

Tere,

bela imagem que me deste em troca... tua força de poeta sempre surpreende...!

beijos,

r

Renato Torres disse...

Maini,

São Paulo é e sempre será essa cidade-provocação, em especial aos artistas. passar por ela imune é perder uma oportunidade de ouro; macular-se de intensidade e delicadeza bruta.

abraços,

r

Renato Torres disse...

P,

certamente que estar entre teus prediletos me agrada, e me acarinha. tua palavra e teus escritos nunca me decepcionam, e não é diferente com este teu comentário-cafuné. te abraço com saudade, sempre!

te amo!

r

Quem sou eu

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Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.