terça-feira, janeiro 29, 2013

Sem Medida


abandonei o relógio de pulso
agora uso, pra marcar o tempo
cada momento da respiração
cada passo sem pressa

os impulsos do coração
nada mais que me impeça
de sorrir ao compasso lento
do pensamento livre da razão

nada de algemas, nem penas
que não sirvam ao voo leve
corolário dos poemas que trago
atados a braços firmes

nem mesmo às pernas tontas
remonto à mesma pisada
tenho os pés nus pela estrada
em vertigem de surpresa

agora só ponho a mesa
ao que realmente interessa:
minha fome mais espessa
a presa mais controversa

a que custa a chegar, mas pesa
na balança sem medida
a carne prenhe de vida
a conversa de lamparina acesa.

12 comentários:

WANDA MONTEIRO disse...

sempre fico embevecida com o que tu escreves.. saudações meu poeta!

Chiara Costa disse...

O cheiro de querosene que sai da lamparina me amortece e faz viver só o instante da prosa, sem pressa, sem relógio de pulso, só com a fome de misturar as palavras ditas...

Patrícia Rameiro disse...

Oh coisa boa é te visitar aqui! Fazia tempo... Lindo!

Ana Guimarães disse...

Já eu ando o oposto disso, num ritmo frenético, o tempo (ou a falta dele) me engolindo...
Parabéns pelo poema!
Bj
Ana Guimarães

Renato Torres disse...

Wanda,

teu embevecimento, tua visita, tua pena... tudo me honra com as naturezas e veleidades da arte poética.

um beijo!

r

Renato Torres disse...

Chiara,

essa fome de dizermo-nos um ao outro, essa conversa em suspenso, sempre esperando o próximo encontro, a página seguinte a ser escrita... é tudo vida vida vida, sem medida, cem mil vezes vivida.

beijos,

r

Renato Torres disse...

P.

que visitar-me te faça o bem que minhas visitas e leituras de ti me fazem... é simplesmente gratificante!

um beijo, cheio dessa gratidão amorosa!

r

Renato Torres disse...

Ana,

é claro: na poesia podemos inventar o tempo que queremos. a vida cotidiana, tão sem misericórdia, nos engessa na velocidade alucinante e digital... mas a alma, essa analógica e reticente carruagem rocinante, vem de muito antes, atravessando o tempo sem importar-se. mas tirar o relógio de pulso ajuda um bocado, viu? =)

beijo,

r

Larissa Medeiros disse...

Lindo Re! Sem pressa é bom mesmo que custe a chegar... A gente vai fazendo da vida o nosso road movie. E quando chegar a gente continua a viagem pra chegar de novo em outro lugar, mas sempre voando leve né?
Beijo,
Lari

Renato Torres disse...

Lari,

sim, sem pressa, sempre essa mesma surpresa: a circunstância adversa, a que não pisa em falso na defesa de tudo que começa. seguiremos adiante, na viagem...

beijos,

r

Samantha Alves disse...

O tempo... perfeito o texto!

Renato Torres disse...

Samantha,

muito agradecido pelo comentário generoso!

abraços,

r

Quem sou eu

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Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.