quinta-feira, janeiro 05, 2012

A Fronteira Delicada



abre o novo ensejo, reverbera
ouve o sonoro desejo da fera
acordada, sai em busca dessa
insuspeitada vereda, desenreda
a tua história verdadeira, aquela
fronteira delicada entre a beleza
e a fúria, entre a folia e a injúria.
 
desespera; deixa que haja império
e penúria, que hajam noites escuras
e sonhos claros. que soem presságios
os adágios, que pareçam árias os
aríetes insistindo na questão invasiva:

haverá, afinal, infinitas esquinas,
variadas perspectivas, diversas escolhas?
serão mesmo tantas as luxúrias,
prolongados êxtases, euforias
desmedidas sem prazo de validade?

averigua a veleidade em tais elixires
e ao sentires aproximar-se o engodo
deita o rodo com firmeza sobre o mármore,
arma-te da tua melhor memória, e esfrega-a,
sôfrega, sobre o pano limpo da razão.
descansa tua mão na pedra fria,
que é poesia o que antes chamavas chão.

10 comentários:

Su Carvalho disse...

Tem muita força, muito mais do que os verbos no imperativo.
Parabéns!
Su

Rosana Carvalho disse...

Realmente, tem tantas esquinas na vida da gente, que a visão perde de vista tantas perspectivas, e aí, de fato, é só escolher, tomar sua decisão e escolhar o seu caminho.
Beijão Rê.

Gina Soares disse...

Linda.... As fronteiras nós criamos....

Marcelo Magalhães disse...

Meu amigo,

Flertas com a palavra com muita intimidade, conhecimento.

Esse teu talento emociona.

Parabéns. Siga em frente com o teu trabalho. Nós merecemos.

Abração,
Marcelo.

Anônimo disse...

haverá, afinal, infinitas esquinas,

variadas perspectivas, diversas escolhas?

serão mesmo tantas as luxúrias,
prolongados êxtases, euforias

desmedidas sem prazo de validade?


a resposta é SIM, Renato!

rss

mais impactante ainda lido opoema na íntegra.

bjos

Luciana

Renato Torres disse...

Su,

esses verbos no imperativo, assim como o uso que faço de adjetivos, já foram alvos de comentários e críticas de alguns leitores... devo dizer, a bem da verdade, que não uso verbos no imperativo com a intenção de dar grandiloquência ao poema, como se quisesse "ensinar"alguma coisa... em primeira instância, escrevo estas coisas para mim mesmo, falando de mim para mim, sobre minhas crises e visões. se as trago a público, é porque penso poder dialogar - e adoro isso em arte, seu poder dialógico - com outras visões, e assim, poder crescer mais ainda. feliz demais com tua visita, e de perceberes a força do texto, "apesar" dos imperativos!

beijo,

r

Renato Torres disse...

Rosana,

claro que temos muitas opções, sempre... mas também acredito na força daquilo que deve ser, inexorável. teríamos então, dentro, uma espécie de bússola anímica, a nos conduzir, porquanto, ao lugar onde deveremos estar...

beijo,

r

Renato Torres disse...

Gina,

é isso mesmo!... resta saber se essas mesmas fronteiras nos libertarão ou nos aprisionarão.

beijo,

r

Renato Torres disse...

Marcelo,

a palavra sempre foi minha primeira via de entendimento com o mundo. quando criança, eu não escrevia poesia, mas desenhava... e os desenhos, como passei a entendê-los mais tarde, foram meus primeiros poemas, imagéticos e gráficos. passar deles às frases e aos versos foi natural, como também foi natural a chegada da música. proponho mais poesia nos Cine Gourmet!

abraços,

r

Renato Torres disse...

Luciana,

sim!... é uma ótima resposta, mesmo àquilo que possivelmente nos infligirá algum sofrimento... devemos mesmo é viver, tudo, de todas as maneiras, pra não padecermos de abstinências.

um prazer ter teu comentário!

beijos,

r

Quem sou eu

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Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.