sábado, dezembro 24, 2011

Uma Outra Primavera



há no Natal uma porção grande 
de renasceres:
como se, de súbito, o fato de veres
varasse as extremidades do olhar
e então o mar da tua infância trotasse,
impossível, como um sonho acordado
e os brados relutassem, num tolo conflito
entre a mágoa e a quimera.

como se fosse uma outra Primavera,
vem esse dia dourar-nos memórias,
e as novas alegrias e velhas histórias
dão-se as mãos, sem pudor algum
apenas para que um torne-se miríades,
e as lápides tornem-se lépidas, alvas
como lebres, a correr distância,

e todas as ânsias cessem, porque
renasces nesse, e em todos os momentos
em que permites que novos ventos
vergastem tua antiga morada.

8 comentários:

edson coelho disse...

renato, estás cada vez mais poeta. os últimos poemas são muito, muito lindos. mais do que dar parabéns,é de se agradecer.

Renato Torres disse...

Edson, mano...

muito me honra, sempre, o teu comentário. aproximar-me da poesia, eis o mote constante, desde os meus 13 anos... fico feliz e agradecido que, agora, aos 39, eu esteja começando a consegui-lo! não há felicidade maior que poder dizer-se, e que esta fala seja também a fala de muitos outros...

abraços! feliz 2012!

r

Maria Cintia Thome Teixeira Pinto disse...

Caro Poeta Renato


Belos versos sempre. Verseja de maneira invejável. Pudera eu ter essa capacidade poética. Admiro teu sentimento diante da palavra, da vida. As verdades em linhas tão ricas e de maneira mais que suave, sublime.

Bom Fim de Ano e 2012 com muitas alegrias pra vc e todos amigos e familiares.

bjus Cíntia Thomé

Renato Torres disse...

Cíntia, minha flor...

tão generoso teu comentário, que chego a ficar quase mudo! muito me alegra a tua admiração e teu gostar, porque escrevo, mormente, para resolver minhas próprias dores existenciais... Uma Outra Primavera, por exemplo, veio para dirimir angústias sentidas na manhã da véspera de Natal, e que, de outro modo, teriam envenenado todo meu dia. agradeçamos, uma vez mais, a existência da poesia em nossas vidas!

um beijo, e feliz 2012, minha querida!

r

Unknown disse...

leitura dinâmica (: pensamento)

o vento vergasta
a nova mobília
na velha morada

Renato Torres disse...

F. Silva,

A mim nada me parece mais sensaborão do que leitura dinâmica. Algo como comer sem mastigar, olhar uma bela paisagem de soslaio, amar apressadamente, evacuação precoce. Perdoe-me o mau jeito (que teu fale Evilasio jamais evitou pra comigo), mas no momento falta-me espaço na vida a desatenções. No mais, feliz 2012.

r

Natália disse...

Renato,
venho aqui em atraso ler esses versos
de natal e me faço nostálgica lembrando os dias que passei em Belém, que dessa vez contaram com a tua presença.
Muito bom te conhecer.

Um beijo

Renato Torres disse...

Natália,

a vida, esse rescaldo de encontros, nos parece sempre uma surpresa, e que bom quando o que nos chega de súbito é algo delicado, bonito, inesquecível. assim também me chegaste, e também posso dizer: que bom te conhecer!

beijos,

r

Quem sou eu

Minha foto
Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.