terça-feira, dezembro 23, 2008

sobre o escuro, um muro de cal, pendente
estrelas circum-navegam brotos lilases.

nas frases, a gota mínima, o sangue arrefecido.
meu coração é um dente de leão que assopras,
pulveriza-se como um sonho na aurora.

toco o cristal que escorre do céu
e é como o seu ombro, a curva do charco,
a maciez imaginária de dez pessoas dormindo separadas
infensas ao enigma de inexistirem, mudas.

eu as abraço e reúno. não há saída.
revolvo a embriaguez do mundo nesse encontro.

tento. não consigo.


escrito a quatro mãos com Jorgeana Braga, 22.dez.2008, msn, 23:00:15.

20 comentários:

Benny Franklin disse...

poema que mede o tamanho de sua genialidade.
BOAS FESTAS§

Maria Cintia Thome Teixeira Pinto disse...

Caro amigo Renato

Tuas palavras me entorpecem a mente, pois nada mais e tudo são palavras que vejo em mim, nos meus espelhos. És o reflexo, os obscuros aos outros mas claro,em mim...clarifica meus sentimentos, aqueles profundos.Cada palavra uma gota de orvalho, vezes lágrima, vezes refrigério...
Parabens aos dois
admiro você
Cintia Thome

Vermmellha disse...

Li. Reli. Enstristeci. Daí pensei ter emburrecido e li mais uma vez (talvez mais de uma vez). O entristecer permaneceu. Como se algo que não devesse ser despertado tivesse sido tocado. Como se a beleza fosse nada mais que uma folha solta num livro, frágil e triste. Resquícios do que fora felicidade e já não o é. brotos de seperança em meio ao caos de lembranças vagas.
"Arte" é assim mesmo: quando menos se espera, a subjetividade irrompe em prantos secos e nós na garganta...
Parabéns às mãos sensíveis de vocês!

thiara disse...

oi,
gosto da comparação com o dente de leão ao coração, dá um sentido de força e desequilíbrio no fim da estrofe.

thiara

Tere Tavares disse...

Como não naufragar no lusco-fusco desse mar incorrompível: o de esmiuçar versos diante de tudo?
Beijos

Renato Torres disse...

benny,

tal genialidade, que apontas, é resultante de um encontro sui generis: dois poetas no não-lugar. e dois poetas que não se conhecem pessoalmente, diga-se de passagem! mas aí provada, a potência conciliadora da poesia, e da própria linguagem, em dissipar distâncias, ignorando nossas limitações humanas. sempre um prazer te receber aqui!

abraços!

r

Renato Torres disse...

cíntia,

é um ungüento bom esse de sabermos que o que escrevemos atinge alguém. tenho pensado sobre os que atingiram a muitos, e se sentiram escravizados ao lugar de "porta-vozes" da humanidade... prefiro mesmo o lugar da identificação humana, tranquila em sabermo-nos espelhados na existência, prescindindo de dogmas. é bom quye a poesia seja algo que se revela a quem tem olhos pra vê-la.

beijos,

r

Renato Torres disse...

vermelha,

sim, é exatamente o que sentiste, e além, sempre além. há uma tristeza inefável mesmo em tudo, em não saber o que se é. mas a beleza (esse "dente podre" como diria mishima) também pode ser redentora como algo que dói. creio nisso enquanto vivo, enquanto escrevo.

obrigado por vir e comentar!

beijo,

r

Renato Torres disse...

oi thiara,

também adoro essa imagem!... dá uma medida precisa e poderosa do alcance de uma imagem poética. foi jorgeana quem escreveu este verso, e tê-lo ao lado dos meus me enche de orgulho, e de prazer em compartilhar o seu imenso talento.

beijo,

r

Renato Torres disse...

tere,

pois: como? para nós, nenhuma saída. estamos fadados a agarrar-nos a essas tábuas carcomidas de metáforas úmidas. que bom, né?

beijos, querida!

r

Madalena Barranco disse...

Ahhh, Renato, eu posso imaginar como há de ser lindo um livro seu de poesia... Sequer precisará de imagens, pois que você as cria como a força da água na mente do leitor. Beijos de feliz Páscoa.

antes blog do que nunca! disse...

Parabéns aos dois poetas. Eu francamente gosto muito de trabalhos a quatro mãos. A parceria patrocina um cruzamento poético, que exulta a arte da palavra!

1 Bj*
Luísa

Renato Torres disse...

madalena, querida,

ah, eu também sempre imagino este livro que há de vir, e o imagino de muitas formas... mas o tempo é quem vai dizer da sua hora de chegada. por enquanto, escolho as melhores cores pra ir desenhando aqui, na página branca, as imagens que tragam pra perto amigos da palavra, como és.

beijos!

r

Renato Torres disse...

senhora lua,

sim! também temos cá um poema feito a quatro mãos, né? e eu o adoro! imagino quantas pérolas não saem de tuas mãos e de ribas...! tão feliz fico em sempre receber tua visita, querida amiga!

beijo,

r

antes blog do que nunca! disse...

Parabéns pelo dia de ontem (2 de maio). Por muitos anos comemores o dia em que vieste à luz.

1 Bj*/1 Ab*
Luísa e Renato

Madalena Barranco disse...

Amigo Renato, onde anda sua poesia? Traga seus versos à Web e continue a encantar-nos.

Beijos

Ricardo e Regina Calmon disse...

Belo belo ,poema a quatro mãos Renato Torres,a oráculo seu cheguei,e agradeço por luz sua,através de Luísa,a Fada Aém Mares!

Muito me honrraria,seguidores sermos na recíproca da Vida!
Te abraço e reverencio!

Viva a Vida!uncalpie

Renato Torres disse...

lua,

obrigado (tão tardiamente!) pelas felicitações do meu aniversário...

beijos,

r

Renato Torres disse...

madá,

atendendo ao teu chamado, antes tarde que nunca... eis "matinais"! espero que gostes...

beijo,

r

Renato Torres disse...

olá ricardo!

bem-vindo! fico feliz que luísa traga mais visitantes a esta página branca, tão sazonal!... sim, sejamos seguidores das palavras um do outro, vamos em frente...

abraços,

r

Quem sou eu

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Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.