terça-feira, julho 01, 2008

Perifeérico

I

à margem há miragens tantas

imaginações que cantam prontas

neste círculo pensante

diante da vida bruta recolho

o ouro e a prata do olho

se calho de estar adiante

vanguarda do tempo perdido

tangências do inadvertido

império da fera invisível

invencionice do impulso

feérico e ingênuo recurso

corsário de um só mar incrível.

II

cravada na pele, feria

a maquinaria da lira incontida

a destemida periferia do incriado

o estrado roído de zombaria

erguido em noites vadias

o leito de rês suburbana

dormia varado de sonho

tamanho era o lanho no ventre

que entre o espasmo e o grito

nasciam meninos sem conta

e tanto que canta o poema

perifeérico encena

a sina do engenho esquecido

o rito de sanha obscena

da pena riscando um sentido.

18 comentários:

Tere Tavares disse...

Renato,
O título é um achado poético de essência-quinta-grandeza.Encantas com a engenhosidade sonora das palavras, o trocar de sentidos. E a subjetivida a nos instigar.
Beijos

Madalena Barranco disse...

ebxOlá Renato, eu estava aqui a espera que meu RSS me apontasse um novo texto em seu blog e eis que surge este, com título ímpar (concordo com a Tere. Desta vez você saiu do rio e veio para a terra periférica... Que lindo. Beijos.

Marcelo Marat disse...

Que beleza, Renato! E na data exta em que fiz 4.1... Maravilha é viver com poesia.
Um abraço!

Unknown disse...

Amigo querido.

não se ausente tanto...faz falta tomar os teus versos...literalmente

bijo-te sempre

Paulo Roberto Vieira disse...

belos poemas,

tua música espremendo o suco das palavras suculentas e perif...


saudades amigo,


paulo

Renato Torres disse...

tere,

o neologismo gerado desse fato simples - poeta do subúrbio - me deu grande alegria, e um tanto de trabalho até finalizar este texto. há possibilidades de virar canção... ou tema de disco. tenho vivido um tanto obcecado com a sonoridade das palavras, mas creio que tem cura!:)

beijos,

r

Renato Torres disse...

madalena, querida,

que bom saber que estou entre seus favoritos no rss! é bem verdade que vivo na tal terra periférica desde sempre... e não poderia ser de outra forma, vejo. a beleza de tua presença me enche de esperança e de novas forças pra continuar escrevendo. obrigado por sempre vir!

beijos,

r

Renato Torres disse...

marat,

felicidades então, meu amigo perifeérico! não deve ter sido à toa essa "coincidência" (que bem sabemos, não existe). e sim, é maravilhoso que haja poesia em nossas vidas, sim.

abraços e parabéns!

r

Renato Torres disse...

amiga querida...

será que é a malmal? não sei... desconfio pelo "bijo" característico. mas aproveito para pedir mais uma vez: ponha seu nome no fim do comentário! rsrsrs...

mas obrigado por vir,

beijo,

r

Renato Torres disse...

paulo,

minha música ainda não espremeu o suco destas palavras aqui... mas tenho um amigo que tá doido pra fazê-lo! rsrsrs...

saudades também!

abraços,

r

Ricardo Mainieri disse...

Unir a periferia ao brilhante, inusitada e inusual metáfora.
O poeta tem de cantar a sua aldeia para alcançar o Universal.
Parabéns, Renato.

Um abraço do Sul.

Ricardo Mainieri

Carlos Careqa disse...

Caro Renato,

parabéns pelos textos. gostei da homenagem ao Ita!
um abraço,


Carlos

Anônimo disse...

Renato,

Uma vez mais me acho perdido na tua sonoridade implacável, cara! A seleção lexical, em ti, ao contrário da de outros artistas, que soa artificial, cerebral, por vezes forçosa, ganha magia e lenda - sem dúvida herança nossa paraense, rsrs... arrisco-me ainda a dizer que, no presente momento, conquanto indissociáveis, estamos diante de um Renato mais músico que poeta na sua produção. Tanto o afirmo, pois meus olhos ávidos procuraram em tua engenharia de sons uma textura, uma imagem sequer para sentir-me no tato. Achei isso:

"dormia varado de sonho
tamanho era o lanho no ventre"

Talvez eu esteja lendo o Vitor demais, não sei. Mas é sempre válida tuas lições, ainda mais essa, que aguça a memória do já empoeirado flâneur.

Sigamos nômades e ébrios por beleza, meu caro!

Abraços,

Pierre Nazé

Renato Torres disse...

mano maini!

é esta mesma a sensação que venho tendo: a de que preciso falar do que está ao meu redor, sem procurar distâncias outras por ora. sempre um orgulho e um prazer receber sua visita nessa casa de palavra!

abraços,

r

Renato Torres disse...

careqa,

adorei tua visita. é honra suficiente pra um dia inteiro de sorrisos!

abraços!

r

Renato Torres disse...

pierre,

a função sonora da poesia, já explicitada nas palavras do Saramago, não inviabiliza nenhum projeto crítico ou sensação sinestésica que queira, por fim, emoldurar um perfil mais ou menos musical para um intento literário. eu, de minha parte, descreio totalmente de linguagens artísticas que não nasçam do corpo, ou como seja, que não sejam orgânicas por natureza, ou por busca. descontada a metafísica, temos mesmo sempre essa mediação dos sentidos via corpo, e portanto, a sinestesia, os automatismos psíquicos, as intuições, a fé, o milagre, tudo o que não podemos dizer de a contento racional, faz parte do indulto poético. talvez seja esse fator o que produza em ti a "sensação de lenda". o fato mesmo é que o ar é espírito, e a fala se traduz no ar. "a verdadeira literatura é a que se fala", diz o Saramago. as texturas subsistem em detrimento de suas implicações sinestésicas... no Vítor também há tudo isso, e diria eu, em qualquer texto. mas eu sou músico há muito, e é lógico que isso está no que escrevo. mas sou poeta há mais tempo... sigamos!

abraços!

r

Helaine Martins disse...

rê, passo aqui pra te ler, que mata um pouquinho a saudade... :)

Renato Torres disse...

minha querida he,

passas aqui, e isso me alegra. mas tens que passar também em lugares não virtuais, que é pra gente se dar aquele abraço metafísico!

beijão,

r

Quem sou eu

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Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.