segunda-feira, janeiro 28, 2008

pedra filosofal

minha consciência pesa viva na balança
carne fresca de primeira razão
minha consciência é pedra no teto de vidro
de quem esconde ouro feito ladrão
pesa quanto vale, cale-se quem não se sabe
sacro cálice de seu coração
couraça, caroço, grotão, gruta escura
grão de bico quieto, feto de furacão

minha consciência perde a paciência
com tanta ciência douta no que é banal
d’outra forma, o que não se aprende sente-se,
que isso depende de um mistério ancestral
conscientemente, mente-se quando se prende
a consciência entre o bem e o mal
peso da prosódia fatal, fado diferente
em que pese a pedra filosofal.

*poema escrito para música de Felipe Cordeiro & Renato Torres.

20 comentários:

Daiane Gasparetto disse...

Tu és o destemido feto do furacão que constrói, em meio às agitações da palavra, a alquimia do verso.

Já havia esquecido como era te ler... quanto tempo perdi.

Anônimo disse...

Que alegria ver que aquela
ideiazinha astuta
ganhou uma letra dessas...
Seco
perspicaz
metáfora viva
estica a percepção
Obrigado parceiro!!!
Felipe C

Renato Torres disse...

dai,

ler sempre será possível... a página branca cá está para tanto. um dia, livros... por ora, o canto.

beijo,

r

Renato Torres disse...

mano felipe,

a palavra é feliz quando encontra seu leito, seu assento lírico, e sonoro. aqui, nos encontramos mais uma vez, no misterioso intento que nos faz parceiros na música e na vida. quero seguir adiante!

abração!

r

Tere Tavares disse...

Tens o verso e a voz, a música no mais belo tom.

Renato Torres disse...

tere,

o verso e a voz, eis uma parceria poderosa... que hajam asas adiante.

beijo,

r

Marcelo Marat disse...

Raros são os que dominam a palavra para criar um pouco mais de sentimento no mundo: sentimento estético, poético, lírico e - claro - bem musical. Para tornar o mundo um lugar melhor, mais "suportável".
Você é da Confraria dos Raros, Renato. Agora, onde escutar a música pronta?

Renato Torres disse...

marat,

é realmente raro que no mundo em que vivemos hoje se oportunizem os encontros de sensibilidades. tudo é tão urgente, pragmático, cheio de objetivos e metas, cheio de "merchandising" e "design", que esquecemos o básico: é preciso sentir. não sei se sou da confraria dos raros a produzir objetos estéticos tais (quero acreditar que há muitos por aí, muitos mesmo!), mas me sinto nessa busca, que é a mesma tua, tenho certeza. ouvir a canção é simples: é só ir me ver tocar uma noite dessas...

abraços!

r

Anônimo disse...

Nossa, Renato, faz já um bom tempo que não adentro nessa claridade. Porém quando o faço, acomete-me sempre a mesma impressão, como no caso de Pedra Filosofal, que levas a palavra às últimas conseqüências. Além do próprio jogo sonoro da poesia, o acréscimo da melodia arranca as possíveis raízes que permaneceram atadas ao solo: é transcendência. Imaginar este poema musicado é penetrar em território de sonho, impalpável. Sendo bem Alberto Caeiro agora, acho que só ouvindo mesmo, rsrsr...

Abraços,

Pierre Nazé

Renato Torres disse...

pierre,

"pedra filosofal" é um caso específico da minha produção, porque é, curiosamente, uma letra de música que tem status de poema - creio eu! ainda que alguns discordem, creio porque ela sobrevive sem a melodia, respira autônoma em seu próprio mote-idéia. e aliás, a idéia de falar do "peso da consciência" - na contrapartida do lugar-comum da "consciência pesada" - me deu grande prazer enquanto escrevia. esse prazer deve estar impresso na canção, sem dúvida... o mesmo prazer que sinto em ter o felipe como parceiro. um dia te mostro a canção!

abraços,

r

Helaine Martins disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Eduarda Petry disse...

"d’outra forma, o que não se aprende sente-se"

Em verdade, creio que a melhor forma de aprender é sentir...
Não precisamos aprender a fazer poesia, porque a sentimos, a vivemos, somos ela...
"Pedra Filosofal" me tocou, gostaria muito de ouvi-la musicalizada.E tambem me faz rir, é engraçado pensar em pedra filosofal, uma pedra que filosofa enquanto muitos seres humanos não o conseguem fazer.Quem dera que ela existisse e desse o poder de o homem raciocinar!

Enfim, gostei.Poesia toca a alma, e tu sabes fazê-lo muito bem.

Por favor, não se esqueça de falar com Malmal.

Grata pela alegria e pelo prazer de ler poesia,

Eduarda Petry.

Renato Torres disse...

olá duda,

é bem verdade que esta lição de álvaro de campos nunca deve ser esquecida: devemos sentir, sempre. tal pedra, mais do que pensar, pesa, e isto nos servirá, talvez, de mote provocador... por vezes é preciso mesmo quebrar algumas vidraças para que haja movimento. espero mesmo que gravemos esta canção em breve! eu e felipe estamos em ritmo bastante produtivo, e creio que outras crias virão.

eu te agradeço a alegria e a devoção com que me lês...

beijos!

r

Anônimo disse...

A palavra existe quando é melodiosa...se não seria meia-palavra....Aoro vir aqui, já constava em meu blogspot.
Um abraço Forte e muita vida.

Maria Cintia Thome Teixeira Pinto disse...

www.olhosdefolhacintiathome.blogspot.com
e/ou

www.olhosdefolhaminha.spaces.live.com

Madalena Barranco disse...

Querido Renato, saudades de sua poesia e de sua palavra amiga... Ao ler o livro Meus Outros da nossa amiga Tere, vi suas palavras tão bem ditas sobre ela! Beijos e até breve.

Alda Inácio disse...

Nossa gostei muito, parabens !
Consegues mexer assim com seus visitantes ! Que lindo !
GRande prazer te conhecer, grande abraço;
Alda

Renato Torres disse...

cíntia,

saramago também fala dessa existência sonora da palavra como a única possível... de resto, apenas desenhos mudos. adoro receber-te aqui...

beijos,

r

Renato Torres disse...

queridíssima madalena barranco...

quantas saudades também sinto de tuas palavras e de teu sorriso solar! estou tão atarefado e tão distante da constante conversa da página brilhante que chego a ficar enfastiado... vê quanto tempo demorei em te responder?

beijos!

r

Renato Torres disse...

olá alda,

seja benvinda nesta casa de palavra. meus visitantes são, em sua maioria, pessoas amigas... o amor que nos envolve ajuda muito a mexer com elas!... mas fico feliz em saber que minhas palavras alcançam a quem ainda não conheço. prazer te receber aqui...

abraços,

r

Quem sou eu

Minha foto
Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.