inerência da linguagem mormente na página branca: a potência da semente, a semântica do mote cotidiano, sem planos. poesia para o enfrentamento do que inexiste, mas urge. grafias caboclas e indígenas por ascendência, oriundas de uma terra feita de águas intensas. poemas registrados na Fundação Biblioteca Nacional - RJ
terça-feira, dezembro 23, 2008
quinta-feira, dezembro 11, 2008
Canto Quieto
rarefeito, se esgueira à maneira de ser
sussurra a prosa calada
cavalgada flecheira na ladeira a descer
sem parecer, se depara com o que não se vê
evidente como agora há vento lá fora a dizer
nada que já não se saiba no silêncio de crer
cresce sem ter onde caiba, cobrindo a muralha de fé
rego o afeto, enfeito a loa
canto a toada quieta, a secreta manhã
emaranhado acorde, asa sobrevoando aberta
na deserta canção
sem perecer, desampara entre o sim e o não
obscura como ainda há lida entre o céu e o chão
tudo quanto não se saiba cabe num estreito vão
vara o tempo e não se acaba a curva invisível do som.
quarta-feira, outubro 29, 2008
deus dará
e o que irás buscar
na vaga inventada virá
viverás do que entardecer
no escuro de crer
na fresta orvalhada de ver
e verás que o medo cessará
e será o enredo de outra história
glória tanta de cantar
saberás que a tez da canção
que trazes à mão
redime o malgrado sofrer
e darás ao vento essa cor
o corpo da flor
perfume invencível de ser
e serás o véu que se abrirá
e revelará o vão da memória
onde mora o deus dará
e ao acordar, recordarás...
terça-feira, julho 01, 2008
Perifeérico
à margem há miragens tantas
imaginações que cantam prontas
neste círculo pensante
diante da vida bruta recolho
o ouro e a prata do olho
se calho de estar adiante
vanguarda do tempo perdido
tangências do inadvertido
império da fera invisível
invencionice do impulso
feérico e ingênuo recurso
corsário de um só mar incrível.
II
cravada na pele, feria
a maquinaria da lira incontida
a destemida periferia do incriado
o estrado roído de zombaria
erguido em noites vadias
o leito de rês suburbana
dormia varado de sonho
tamanho era o lanho no ventre
que entre o espasmo e o grito
nasciam meninos sem conta
e tanto que canta o poema
perifeérico encena
a sina do engenho esquecido
o rito de sanha obscena
da pena riscando um sentido.
terça-feira, abril 29, 2008
Queridos Amigos
amados cavaleiros das cruzadas primeiras,
onde estais vós, companheiros na rua da infância,
vozes no pátio vazio, célebres e ruidosos vadios?
vai longe a louca viagem, a bagagem sonolenta,
o destino sorteado no baralho.
evoco suas presenças docemente...
ergamos taças cheias do vinho consternado,
da lição derradeira, da invencível fagulha do perigo
– da vida, queridos e bravos amigos,
que nos abandona à deriva, mas que, viva,
nos torna feliz memória, história florida na mão,
paixão da sangria incontida.
segunda-feira, janeiro 28, 2008
pedra filosofal
carne fresca de primeira razão
minha consciência é pedra no teto de vidro
de quem esconde ouro feito ladrão
pesa quanto vale, cale-se quem não se sabe
sacro cálice de seu coração
couraça, caroço, grotão, gruta escura
grão de bico quieto, feto de furacão
minha consciência perde a paciência
com tanta ciência douta no que é banal
d’outra forma, o que não se aprende sente-se,
que isso depende de um mistério ancestral
conscientemente, mente-se quando se prende
a consciência entre o bem e o mal
peso da prosódia fatal, fado diferente
em que pese a pedra filosofal.
*poema escrito para música de Felipe Cordeiro & Renato Torres.
Quem sou eu

- Renato Torres
- Belém, Pará, Brazil
- Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.