domingo, março 25, 2007

caranguejo

sobejo, enquanto vejo-te
às alturas da superfície
cá, pleno em minha imundície,
à minha casa lamacenta.

adivinho se acalentas
sonhos de magnitude.
eu cá dentro mergulho, amiúde,
no açude denso do que penso.

invento verso enfurnado, mas
nunca venço o meu fado,
disfarçado no objeto direto
desse exoesqueleto: a modorra
do desejo em ofertar-te,
caranguejo, a carne íntima
que a ti desvelo.

20 comentários:

luadepedra disse...

Renato amigo,

As tuas palavras em "caranguejo" são protectoras e ferozes. Se por um lado defendes a importância do seio da família, por outro, exultas quem merece de ti, entrega.

Deixas no ar: emoção, consolo e amor.

1 Bj*
Luísa

Renato Torres disse...

luísa,

menina da lua... tuas observações são sempre surpreendentes, e desvelam pra mim faces do texto inéditas. quando o escrevi, estava tomado duma necessidade de resposta quase pueril diante de uma situação afrontante... é bom saber que por detrás da mera "autoterapia" que fiz, o texto tem camadas outras...

beijos,

r

Palo disse...

Lembrei de alguns contos do Gabriel Garcia Marquez nos quais o cheiro do caranguejo se acabando na enseada quase não sai daqui de casa.

Unknown disse...

Olá Poeta

Ví sua página nos links da Move-te (de Pierre) e por mera curiosidade, entrei a espiar-te...

"a modorra
do desejo em ofertar-te,
caranguejo, a carne íntima
que a ti desvelo."

Esses versos maravilhosos que me trazem á mémoria outros versos dos quais não me esqueço, me fazem irradiar de alegria ao ver que ainda há pessoas tão apaixonadas por poesia, fabricantes de idéias, de versos, de rima, de ritmo.Rejubila-se meu coração ao ver pessoas transformarem em amor e alegria o dia-a-dia de muitas pessoas.
Versos explêndidos.

Pierre Nazé disse...

Pudera que um dia voltássemos a ter a delicadeza dos caranguejos patinando no lodo, conquistando os atalhos paralelamente ao que vê... No entanto, cá estamos, submersos ante tanta lama, manguezais de lembranças. Versos sublimes, meu caro, concomitantemente velados por uma metáfora não mais que oportuna: exoesqueleto da poesia, a idéia íntima.

Abraços,
Pierre Nazé.

OBS: Aqui um novo blog meu, somente para poemas desse poeta embrionário:
www.move-te.blogspot.com

Renato Torres disse...

pássara,

que prazer ter tua visita na página branca!... sim, o gabriel é sempre uma referência muito benvinda... e há mesmo muito dele nessa artimanha simbólica de chafurdar nos âmagos da natureza pra encontrar redenção e iluminação.

beijos,

r

Renato Torres disse...

oi eduarda,

se ficaste feliz, nem imaginas o quanto é feliz pra mim ver que o que escrevo pode alcançar outrem com esta precisa delicadeza de extrusão natural, íntima, humana. essa mesma que descreves com propriedade.
a poesia, para além de ser, de fato, uma paixão, é uma necessidade cotidiana, de atenção e susto, e que não se desvela tão somente pela escritura... é mesmo uma questão de vida e de respiração. e água.

um beijo, e volte sempre!

r

Renato Torres disse...

olá pierre!

a lama é, ao contrário do que o senso comum nos reza, um lugar de limpeza, e de vida. mas somos afeitos aos "trocadilhos" (pra lembrar as palavras da estamira...), e teimamos em achar que é torpe o que não é, e que é luxo o que é mortal. a metáfora é quase uma redundância, píerre... mas coube mais à minha sanha de provar que estou a me doar do que à de escrever algo que valha. agrada-me saber que a ti vale.

sempre um prazer receber tua visita... vou lá conhecer teu novo blog!

abraços,

r

Eduarda Petry disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

A lama é regeneradora, curativa, como vários tratamentos comprovam. Psicologicamente então... significa purificação.
Beijos, Renato, parabéns!
Ana

Unknown disse...

eu só saudade, suas palavras aliviam...

bijo

Eduarda Petry disse...

Descreveste o verdadeiro sentido da poesia, seu verdadeiro significado.Poesia é vida e muitas vezes pondero ela como minha unica forma de respirar.Sem poesia, certamente, eu nada seria.
Lhe peço, por favor, que fique a vontade para dar dicas e sugestões.Adoraria se o fizesse (Pierre me falou do quão grande poeta e homem que és.Meus olhos comprovaram isso ao ler tuas palavras.)
Obrigada por tuas palavras.Teus versos brancos significam tanto ou até mais que os meus.

Beijos.

Eduarda Petry

Letícia Möller disse...

Oi Renato,
gostei muito de conhecer o teu blog. Espero que sigas escrevendo por aqui (vi que faz tempo que não postas...).
Achei teu poema excelente.
Abraços.

Renato Torres disse...

querida ana,

sim, a lama purifica... e é sempre restaurador renivelar-se ao rés-do-chão, ou ainda abaixo... para poder enxergar com clareza o que é e o que não é.

beijos,

r

Renato Torres disse...

alma,

saudades sempre, né? e eu pretendo estar mais presente, creia... te devo visita, vou lá...

beijos,

r

Renato Torres disse...

eduarda,

cá estou de volta, para reafirmar esta mesma importância de que falas em teu comentário. sinta-se plenamente responsável por esta retomada, e aguarde meus comentários sobre o que formos produzindo. a poesia seguirá nos indicando os (des)caminhos.

beijos,

r

Renato Torres disse...

olá letícia,

é um prazer e uma honra receber tua visita cá em minha ex-abandonada página branca! voltaste em boa hora, e de pé quente (apesar do frio daí onde estás), porque volto a postar e a responder comentários à partir de agora. por favor, volte sempre.

beijos,

r

Letícia Möller disse...

Renato,
volto sim (voltei, viu?).
E inclui teu blog no meu "efêmeras letras", no link "blogs a conferir!" (embora não seja de grande valia, pela falta de visitação...).
Um abraço,
Leticia.

Renato Torres disse...

oi letícia,

que bom que voltou! e obrigado por incluir meu link - sempre há um possível visitante... agora, eu fiz um comentário num texto seu lá, e ele sumiu! deletaste? chegaste a ler?

beijo,

r

Letícia Möller disse...

Renato,
acabei te respondendo sobre isso na sua outra postagem, Tempos maduros. Nao cheguei a receber nenhum comentario seu, infelizmente.
Um abraço,
Leticia.

Quem sou eu

Minha foto
Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.