terça-feira, fevereiro 28, 2006

a virgem

quando a virgem estendeu-me sua língua de éter
pus-me à míngua, notário subitamente reduzido
a dicionário, cuja pena murcha estrebucha
a cuspir sua tinta em garrancho precário.

a virgem estirou-me sua página branca
na penumbra, sem de todo revelar-se, neófita.
eu, nu a fitar-lhe as brandas ancas sem pátina,
medindo sua nudez mais ancha à medida
em que avançava-me a febre ignorante.

foi então que, diante da iminência do golpe,
eu surdo em meu machado arfante, ela deu-se
a saber, intocada, qual hora doravante.
eunuco, a carne bêbada, um dessemelhante,
pôs-me Minotauro vencido a murro ou espada,
ária de nenhum canto, espanto costurado a fio,
prisioneiro em dédalo sombrio, estremeci.

quando a virgem entendeu-me assim, sorvi
seu ungüento, em pequenas doses, que ela
trazia-me, diligente, à boca, em cautela.
a negra donzela lambeu seu espelho, que
dissolveu-se, vermelho, em sangue futuro.

9 comentários:

Anônimo disse...

Meu lindo, eu não preciso nem falar o quanto de gosto, pois sou bem clara quando te vejo... A única coisa que faço sempre (e nunca deixarei de fazer) é agradecer-te por tudo. Pelas poesias, nossos longos papos , tua atenção comigo... Enfim, eu te adoro!

Que bela poesia!
Adorei!
Sempre gosto de tudo que vem de ti!...

Bjim!

Anônimo disse...

cara, gosto de fato de teus poemas. tocam de forma potente certo território do mistério, de sensações algo estranhas, ancestrais, da poesia ou do que originou a poesia. para mim, um artista não pode ser mais feliz do que quando nos dá a impressão de que o tempo não existe e que há muitas dimensões em que se perder.

WAGNER LEITE disse...

quando pisei pela primeira vez naquela terra, me senti nativo; bebi com estranhos como se estes fossem meus melhores amigos; saudei a vizinhança e as moças sem rosto que por mim passaram, já estive nessa terra sem relógios e calendários, "estamos suspensos, perdidos no espaço..." foi lá que nos conhecemos e te agradeço por isso. beijos...

luadepedra disse...

Querido Renato,

Destrinças com sagacidade, os termos próprios de uma ciência ou arte.

Na escrita, primas.

Percorres os caminhos baptismais da palavra, convertido ás cores do tempo.

Sabes dos pensamentos labirínticos dos poetas que investigam os princípios essenciais. Ora recheados, ora eremíticos, mas sempre válidos á alma.

1 Bj*
Luísa

Ká Vignatti disse...

O poeta nasce poesia, faz viver-se em linhas coreógrafadas, pintadas à tinta mal cheirosa da caneta. O poeta se faz e se desvenda, segredos, rancores, amores... o poeta, a casa, o rumo, o site, colori seu canto, faz prazeroso, e as horas, deixe-as para o relógio que o tempo é canção e tua poesia completa os ares.

Até a próxima poesia.
Carla Andréa Vignatti

Marcelo disse...

Salve renato!
Abraços daqui das Minas Gerais! Recebeu meu email sobre o http://www.overmundo.com.br ?
Mande notícias,
marcelo
http://virgulaimagem.blogspot.com/

Anônimo disse...

Rapaz, que fôlego, hein? Que verve! De tirar o chapéu, se chapéu tivesse. :)
Beijos,
Ana

Anônimo disse...

Oi Renato,
O Ping-o-matic é meio lento, mas o resultado está lá: http://www.technorati.com/search/virgulaimagem.blogspot.com

fiquei curioso a respeito dos seus trabalhos de colagem... não deixe de enviar umas imgens para eu ver depois. a página da sua banda estou abrindo agora. grande abraço,
marcelo

Marcelo disse...

Oi Renato,

Tudo bem? O Vírgula-imagem mudou para um endereço novo, está com novo projeto gráfico e tudo. Gostaria de te convidar para ver como ficou e também para atualizar o link no seu blogue:
http://virgulaimagem.redezero.org

forte abraço,
marcelo

Quem sou eu

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Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.