terça-feira, fevereiro 14, 2006

sobre a certeza

esculpe tua certeza
como um anjo sobre o sepulcro
evita o maneirismo e a soberba
espera diante do sol nascente
as verdades indizíveis
caminharem sobre os montes
em direção ao teu olho desperto
abandona esse teu desespero em saber
à sua própria sorte:
não queiras saber coisa alguma

acalanta o sono de teu filho
apenas com o silêncio
percebe que tua linhagem transborda já de ti,
para além da existência de teus descendentes

faze de tua obra carne e sangue a pulsar.

conhece os homens ao teu redor
e oferece a cada um, um brinde:
algo para a sede e a fome
algo para o ócio, e o abandono
conhece os caminhos largos de teu sono
observa os teus amigos imateriais,
e deles aceita o tributo e o conselho
esforça-te em tua memória para que
o ouro baço não se transmute no pó da vigília

percebe que a vida ao redor de ti
diz apenas: sim
mesmo com o pranto e a perda lacônica
mesmo com pequenos animais sucumbindo
a cada passo teu -

a cegueira é saturação, nunca ausência.

rejubila-te com um espaço vazio
alegra-te, finalmente, com a certeza do nada
donde tudo há de recrudescer.

7 comentários:

Anônimo disse...

olá querido amigo, sempre leio tuas páginas, aliás tenho guardadas algumas delas em diários antigos. Esta nova página é bela e me identifiquei muito com o texto. Parabéns!
Silvana.

Unknown disse...

nada de religioso, ao menos não da maneira que se usa o termo, mas para reconhecimento de vida..


bijo pelo belo texto. sempre

alma

Anônimo disse...

Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.

Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo.


Palavras de Pablito!

Lindo texto,Renato...lindo texto!

Te gosto...
bjim

Anônimo disse...

Parabéns, gosto da maneira com que fala com sigo mesmo e com as pessoas que o cercam.

Obrigado:

Luciano Pinheiro.

Unknown disse...

nossa herança.. forjada com nosso sangue e suor para a nossa decedência...
o que deixaremos para os que vem depois de nós?
obrigado pela reflexão, Renato.
Abraços!

Anônimo disse...

Independente de minha tristeza...
A vida fica insistindo em dizer sim.
Seu texto caiu como luva neste meu momento de revisitação.
Te amo e admiro.
Wenna.

WAGNER LEITE disse...

Esses versos são como diálogos íntimos, os ouvidos do mundo escutam tua página muda, tua intimidade de porta aberta. Ser único e não ser uno, tb me sinto escultor dessa certeza que buscamos
Segue alado meu poeta-irmão
Grande beijo...

Quem sou eu

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Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.