sexta-feira, outubro 12, 2012

Oito Trovas Vividas


dei um jeito de ir crescendo
pra surgir noutro lugar
minha vida fui vivendo
indo de aqui até acolá

ando assim como se quando
fosse onde eu queira estar
adormeço e vou sonhando
sem saber como acordar

sem saber se o que escondo
é o mais fundo do que sou
a pergunta que respondo
ao mostrar-me sem pudor

se puder, me faço inverso
do que peço ou do que quis
sempre intenso no que, imerso,
penso ser minha raiz

num país deserto, a neve
de um inverno sem palavra
e meu corpo inquieto e breve
se descreve no que escava

e se encobre no que embebe
de absinto ou de cachaça
o absurdo labirinto
do que sinto, e nunca passa

e não grassa a desventuras
nas paúras descontentes
que me queiram nas funduras
escurezas penitentes

vou tentando ser adiante
antes que a morte surpreenda
e me prenda em seca fonte
donde eu nada mais entenda.

8 comentários:

Madalena Barranco disse...

Querido Renato,

Gosto de sua poesia que mergulha nos versos. Sempre há água no que diz...

E, lendo o poema musical completo, em que "sem saber como acordar", você dá um jeito de fazer isso virando nas esquinas dos versos antes que a morte surpreenda...

Adorei!

Beijos

Ana disse...

Ai, meu lindo amigo! Seus escritos são um presente pros nossos olhos, ouvidos e coração. Tocam fundo viu? Obrigada por compartilhar. Beijos de Ana Reis e Anabel.

Flaviane Leão disse...

Encantada, uso de ti e A.Belém pra comentar sua parida de hoje:

...tem um sol na tua palavra
tem um cheiro de café
vai, me conta qual segredo
tem na gente ser quem é?...

Marcelo Marat disse...

A Morte e o mistério sempre rondam, explícitos ou subterrâneos... Mas parece que mostram mais a cara à medida que o tempo passa... Na poesia ou na vida, estão sempre por aí... Há vida? Ah, vida, sempre!... Então siga, poeta, no limiar, no delírio, enquanto for possível.

Evoé!

Renato Torres disse...

Madalena,

o mergulho se dá por necessidade, bem o sabes: a água nos completa, porque se nos é adequada... sempre uma alegria te receber por aqui!

beijos,

r

Renato Torres disse...

Ana,

minha linda e saudosa amiga, esses versos são uma maneira de tocar teus cabelos distantes, teus ouvidos sensíveis, teus olhos de moça inteligente...

beijos! pra ti e Anabel!

r

Renato Torres disse...

Flaviane,

conto segredos como quem desvenda os medos, na feitura de palavras. usas de mim como eu, por minha vez, uso de ti, e de todos, nessa tarefa de ir me dizendo pelos olhos humanos.

seja sempre bem vinda!

beijos,

r

Renato Torres disse...

Marat,

a morte e o mistério são irmãos siameses, e passam os meses, os dias, segundos, a acompanhar-nos os passos. creio neles como amigos, e quero tê-los assim, por perto, pra ensinar-me as falas dos desertos, e a língua dos oceanos.

abraços!

r

Quem sou eu

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Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.