quarta-feira, agosto 18, 2010

a escritura

uma vez mais compreendes o que te cerca:
a conversa escura e multitudinária
os olhares ubíquos das rapinas.

repetes coitos e mantras na surdez esfacelada
enquanto nada mais é tão nítido.

tens a agonia súbita das retinas,
a recusa orgulhosa do pão doado
e a teu lado, a qualquer hora,
ardem querências ansiosas.

forjas o brilho das rosas descritas
e o verbete inédito segue intocado.

buscas calado o que te ousa doer,
e a farpa dourada adorna-te a garganta.

...

uma vez mais agiganta-se o sentido:
acrílico, zinco, a curvatura vistosa
do próximo crepúsculo

a musculatura da infância, irresistível e elástica,
a medida lúdica do exercício mortal, a escritura

(essa inversa procura do que sabemos inexistir
e acerca do que terminamos por auscultar,
mímicos, nas palavras que nos concorrem
emersas d'um leito invisível).

14 comentários:

Tere Tavares disse...

Renato,
feito miríades de inominadas estrelas - velas a pulsar grandiosas, pétalas e palavras em tecituras - para um vôo sem escalas, sem ponto final.
Belíssimo. Parabéns.

Renato Torres disse...

Tere,

a aventura da palavra nos emociona e nos empurra adiante, não há dúvida. sejamos sempre conectados um ao outro por essa certeza: a de que somos mergulhadores deste oceano profundo de humanidades.

um beijo,

r

Madalena Barranco disse...

Renato, querido poeta, a princípio senti teu verso "seco", até que a palavra "emerge" me fez ver o verdadeiro Renato das Águas fluindo... Mas você já fluia, mesmo sem palavras umedecidas pela jornada. Beijos - eu adorei! Madá

edson coelho disse...

renato, lindaço, o poema. uma alegria.

Lígia Saavedra disse...

É um grande prazer ler-te, Renato.

Poesia em linha reta que nos leva a pensar em curvas e em sentimentos.

Bjs

Unknown disse...

É um oceano de poesia, que segue a transbordar de alegrias e felicidades. abraços... sucesso...

diego xavier

Renato Torres disse...

Madá,

é bem verdade: quando estava a escrever este poema, me sentia bastante árido, como que a acordar de um certo torpor, sedento como num deserto. escrevi através dessa sensação um tanto miserável, e fui cavando, até surgir um pouco de água.
bom sempre ter o privilégio do teu olhar e sensibilidade sobre o que escrevo...!

beijos,

r

Renato Torres disse...

mano Edson,

não imaginas a minha alegria a cada vez que vens comentar, pelo tanto que respeito a tua escritura. e que o que eu tenha escrito te alegre, eis mais um motivo pra sorrisos fáceis. obrigado sempre, irmão!

abraços,

r

Renato Torres disse...

Lígia,

muito bacana essa tua visão de algo reto (seco, como disse Madalena Barranco), que leva a curvas e volutas reflexivas - a água oracular. que seja sempre um prazer nos encontrarmos nos prados da poesia, querida!

beijo,

r

Renato Torres disse...

Dieguito,

que surpresa receber tua visita aqui, pela primeira vez! e que honra também... este oceano de que falas, em mim transborda a cada visita, a cada troca. maravilha é ter parceiros e amigos como és!

abração,

r

Z.A. Feitosa disse...

Obrigado, poeta! Deus o bendiga com muitos êxitos. Saudações e bênçãos. Z.A. Feitosa

Unknown disse...

belo texto Renato
abração!

Renato Torres disse...

Feitosa,

eu que agradeço a tua gentil visita.

abraços!

r

Renato Torres disse...

Maynard,

valeu mano!

abraços!

r

Quem sou eu

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Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.