quinta-feira, setembro 27, 2007

Tempo Maduro

Neste estranho hiato de postagens aqui na Página Branca, recebi diversas vezes os questionamentos inevitáveis: por quê? Talvez para reiterar a metáfora óbvia do silêncio em relação à este branco sítio? Nada disso. O fato é que alimentei esperanças que não se cumpriram, naturalmente, e que me acomodaram neste silêncio de tantos meses. Contudo, e percebendo o grande interesse que este blog desprovido de atrativos visuais (não consigo nem ao menos carregar uma foto minha, creiam) desperta em alguns seres, resolvi voltar a publicar meus textos aqui (venho publicando periodicamente no Overmundo), e começo com um texto que pouco foi lido por lá, sequer chegou a ser publicado no banco de cultura - consta apenas em meus arquivos. Espero que os antigos e novos visitantes o apreciem. É bom estar de volta.

Tempo maduro

ouço rumores que soçobram pela tarde
vapores da arte queimando-me os olhos
e os tantos embrulhos da realidade
a que não me cabe naquilo que escolho.

desenho em suores meu esforço caçador
vagido ordenado em canções que detenho
esbaforidas e renitentes como um tremor
do animal sem freio, do urro tamanho.

cobre a ti mesmo de célere espera,
e verás, varrer a terra, o inesperado
residindo na máquina, no músculo, na têmpera
os ardis do pensamento não invocado.

a mão do que entendo não colhe
esta água turva que avassala e afoga
e obriga ao tempo maduro que tolhe
o impulso secreto do que não se joga.

ensaio este salto no palco intranquilo,
rescaldo de sonho queimando na testa.
volto à longitude esguia, e vacilo
entre o que viceja, e o que detesta.

Quem sou eu

Minha foto
Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.