segunda-feira, janeiro 22, 2007

és a corda leve onde vibram
os tonitruantes fogos, a fala do trovão
és um corpo entre corpos voltados ao zelo

de estar a ser, de um acordo mútuo
com edifícios e o trânsito involuntário das sombras
de ferir-se fatalmente às quinas da solidão coletiva
e dar-se a inventos miraculosos, engenhos
superlativos da tua existência pouco percebida


olhas ao longo da avenida as árvores tristes
perfazendo-se num cortejo suspenso, os braços a clamar
mas sua tristeza, percebes, nem ao menos existe
existe a tua inteligência intranquila disfarçando-te
emulando em galhos e copas a tua dor íntima
existe apenas a tua mínima palavra, cujo esgar
espera ser ouvido, e que tende a tornar-se

ferramenta, armadilha, poção, veneno
estampido distante, teu pequeno mundo
hábil movimento grafando um pensamento mudo.

19 comentários:

Anônimo disse...

belíssimo poema, parceiro. Peço autorização pra tirar uma coisinha aqui e ali e construir uma melodia em cima, posso? Sabes que a métrica melódica difere da do poema. Diz-me se posso, tá bom? Abração imenso.
Vital L

Anônimo disse...

é isso aí, seu renato: a página em branco combina imensamente com enxurradas: de mar, rio, sentimento, palavras - vazões.

edson coelho

Renato Torres disse...

ah, vital!!!...

ainda perguntas se podes mexer no que escrevo? é claro que sim!... aguardo sempre, ansioso, a nossa próxima parceria... prazer imenso te ter comentando minha poesia!

abração!

r

Renato Torres disse...

mano edson,

e como! tenho estado sempre às voltas com tais enxurradas. aqui, um tanto desse desencanto típico de quem habita a urbe desordenada.
e o teu livro, quando sai? ansioso por ele!...

te ligo pra nos encontrarmos...

abraços!

r

... disse...

Que coisa bela tua poesia, meu caro! Difícil não se identificar com tuas letras, com esse cárcere que denuncias e que remonta à vida urbana, à dor de apenas enxergarmos as tristezas conquanto permanecemos anônimos em existência, sem oportunidades para libertar-nos em gritos de idéias. Grande abraço.

Pierre Nazé.

Renato Torres disse...

pierre!

honrado em tê-lo a comentar, tu, poeta placentário, como dizes, estás muito mais afeito às compreensões do que a maioria dos poetas não-placentários que conheço! vivemos a derrocada do lirismo, da sensibilidade, da atenção líquida. mas claro que se abrirão novos caminhos, especialmente pela lavra de quem insiste na poesia, como nós. permanece embrionário, menino, e verás que o universo inteiro já chameja, túmido, na semente não estiolada.

abraços

cantabile disse...

Oi Renato, vim retribuir e agradecer-lhe a visita.

Parabéns pelos belos e delirantes poemas. Ainda estou extasiada com o que li.
beijos e até breve

Renato Torres disse...

olá luísa!

um prazer receber tua visita... de vez em quando passarei por lá pelo teu blog, pra ouvir teus cantos...

beijos,

r

Anônimo disse...

Fascinante a sua habilidade em lidar com as palavras, com os fonemas, melhor dizendo, toda a verdade que eles passam além do horizonte!
Beijos, poeta,
Ana

Ana Costa disse...

Renato,
gosto da intensidade dos teus versos, uma escrita de corpo e alma que extrapola os sentidos.
Abraços!

Madalena Barranco disse...

Querido poeta Renato, a água doce brota na fonte dos mistérios a cada verso seu, orvalhado em sabedoria! Beijos e muito obrigada pela sua sempre bem-vinda visita ao meu site. Ah, agora também tenho um blog "Seu eu flor de morango" - se quiser passar um dia por lá também será bem-vindo e aproveitará para conhecer a turma das criaturas fantásticas do blog. Beijos. Madalena

Madalena Barranco disse...

Relendo sobre tua sombra... Vejo que ela é parceira da própria luz, que incide sobre tuas páginas brancas. Somente por um século li algo tão assombroso e momumental sobre a força da sombra ao lado da luz. É uma honra ler tão sábio e profundo poeta do rio Amazonas. Beijos.

Anônimo disse...

Renato,
De fato, um concerto irrecorrível de quem sabe tocar não somente com palavras, mas, especialmente, com os sentimentos. És belo, tanto em sombra como em luz.

Abraços

Anônimo disse...

Renato,
De fato, um concerto irrecorrível, de quem toca não apenas ao saber usr as palavras, mas por entender os sentimentos. És belo.

Abraços

Anônimo disse...

Oi Renato
Cheia de saudades!!!
Vim te visitar e acalmar a alma...
Beijo grande

Anônimo disse...

Oi Renato
Cheia de saudades
Vim acalmar a alma
Beijos

Anônimo disse...

Oi Renato
Cheia de saudades
Vim acalmar a alma
Beijos
Silvia Paiva

Unknown disse...

saudade de vc, nêgo..bijo da cidade sem conexão....

Madalena Barranco disse...

Querido Renato, o trovão & a brisa convivem em harmonia na tua bela poesia, que para mim soa sempre ao natural. Beijos.

Quem sou eu

Minha foto
Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.