a idade do amor
para ir além da dúvida, além do que não sei
é que encontro o chão com os pés
como fossem as sementes lançadas
ao início da quimera, inocentes,
em desterro e indolência diante
do bárbaro espetáculo.
é com as pedras do sono,
pendentes nas pálpebras do dia...
é como deliquescer sob circunstância
irrespirável, saltitar na brasa moribunda,
lamber a lúbrica ferrugem
dos próprios agrilhoamentos.
é com o ferro da própria vertigem,
a nódoa renitente do próprio vômito,
que há de reger-se a si o curso inevitável,
a folha de zinco vibrando sob a mão
da tempestade, o berro noturno da mitologia
até então desacreditada.
assoma num vôo de flancos eriçados
o meu espírito rugindo sua juventude &
também sua antiguidade, reclamada em visões.
assume as altas espacialidades, enquanto
a idade do amor ri-se de não existir o tempo.
inerência da linguagem mormente na página branca: a potência da semente, a semântica do mote cotidiano, sem planos. poesia para o enfrentamento do que inexiste, mas urge. grafias caboclas e indígenas por ascendência, oriundas de uma terra feita de águas intensas. poemas registrados na Fundação Biblioteca Nacional - RJ
segunda-feira, junho 12, 2006
sábado, junho 03, 2006
inventania
eu vivo à beira do precipício
e tenho o vício sereno da queda.
a seda que envolve o gume do poema
não teme o corte.
eu vivo no ritmo da morte
microscópica de minhas células,
no rumor de suas almas esbatendo-se
na brisa que expiro - libélulas minúsculas,
éter flambado em hálito.
eu giro em hélices que reúno
aos ramalhetes, inscrevo verbetes inéditos
às vértebras do indício.
hinário d´outro culto, escuto árias
angélicas em meio à minha febre.
eu sou dourado a cobre, tenho
a impáfia charlatã das bijouterias.
o caldo fervente que verte o poema
não queima a sorte.
eu tardo no trânsito do mote
que repete a destreza das infantarias,
a flecha túmida feita a desejo
e siderurgia, irrompendo perdulária
de minhas vestimentas.
eu trago comigo as ferramentas inúteis,
hábeis às tarefas que não compreendo:
o incêndio rouco, a árvore cadente,
a sílaba serralheira, o novelo do quando,
e talho a golpes de tinta negra
a regra que resta queimando,
fôlego de serpente calada.
eu mordo a carne da fruta
e flagro a disputa alada
entre alegrias e tormentos.
eu vivo à custa do que invento
e tenho um vento doido
a soprar-me a cara.
e tenho o vício sereno da queda.
a seda que envolve o gume do poema
não teme o corte.
eu vivo no ritmo da morte
microscópica de minhas células,
no rumor de suas almas esbatendo-se
na brisa que expiro - libélulas minúsculas,
éter flambado em hálito.
eu giro em hélices que reúno
aos ramalhetes, inscrevo verbetes inéditos
às vértebras do indício.
hinário d´outro culto, escuto árias
angélicas em meio à minha febre.
eu sou dourado a cobre, tenho
a impáfia charlatã das bijouterias.
o caldo fervente que verte o poema
não queima a sorte.
eu tardo no trânsito do mote
que repete a destreza das infantarias,
a flecha túmida feita a desejo
e siderurgia, irrompendo perdulária
de minhas vestimentas.
eu trago comigo as ferramentas inúteis,
hábeis às tarefas que não compreendo:
o incêndio rouco, a árvore cadente,
a sílaba serralheira, o novelo do quando,
e talho a golpes de tinta negra
a regra que resta queimando,
fôlego de serpente calada.
eu mordo a carne da fruta
e flagro a disputa alada
entre alegrias e tormentos.
eu vivo à custa do que invento
e tenho um vento doido
a soprar-me a cara.
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Quem sou eu

- Renato Torres
- Belém, Pará, Brazil
- Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.