Revirar cadernos antigos é, para mim, catártico. Sempre acabo me deparando com eus que deixei espalhados e dispersos, empoeirados e até mesmo de castigo por tempo indeterminado. Eis aqui três fragmentos de poemas, certamente inacabados, de todo modo acabados a seu próprio modo... perdidos numa agenda de 2002, à mercê do acaso, e da minha paciência, renovada após alguns anos de espera, e mudanças pontuais. Não têm encaixe, não esperam nada. Não são senão brinquedos quebrados. Sempre amei meus brinquedos quebrados.
: : 1 : :
explode a lua negra em meio a bela noite
estrelas se tornam açoites infinitos
e as palavras, num vocabulário aflito
colidem, espatifando-se em coices
enumero as palavras em gênero e grau
até que surja a frase fatal em presença
ajoelho-as em reza e penitência
diante das flores em meu quintal.
: : 2 : :
dia chuvoso – delícia ociosa
rosa seio vulcão pedra
andrajo mineral, menina cedra
palavras amadeiradas, leitosas
via-láctea em teu ventre-leito
literatura táctil, pétalas do peito
retalhos da seda na pele, e na sede
engulo teu sumo que a lua mede
noite estrelada – novelos celestes
: : 3 : :
peço a mim mesmo: tenha alma
calma que o novo já está
agora é como a palma da mão
conheces no instante em que dizes: já
peço a mim mesmo: pra ciência
fica com os olhos atentos
incidente é como caixa de presente
apresenta o futuro acontecimento
inerência da linguagem mormente na página branca: a potência da semente, a semântica do mote cotidiano, sem planos. poesia para o enfrentamento do que inexiste, mas urge. grafias caboclas e indígenas por ascendência, oriundas de uma terra feita de águas intensas. poemas registrados na Fundação Biblioteca Nacional - RJ
sexta-feira, novembro 04, 2005
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Quem sou eu

- Renato Torres
- Belém, Pará, Brazil
- Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.