inerência da linguagem mormente na página branca: a potência da semente, a semântica do mote cotidiano, sem planos. poesia para o enfrentamento do que inexiste, mas urge. grafias caboclas e indígenas por ascendência, oriundas de uma terra feita de águas intensas. poemas registrados na Fundação Biblioteca Nacional - RJ
terça-feira, agosto 28, 2012
sexta-feira, agosto 10, 2012
Mesmo Quando
sempre me surpreendi que a palavra "mesmo",
ainda que tenha uma função assertiva, de confirmação
traga em sua narrativa uma parte a esmo, sem direção,
a suspeição enferma de sua própria condução,
certa predileção por abismos ermos,
por erros sem perdão, e por perdermo-nos sem conta.
a tonta compreensão, e sua feição de esboço
o torso hirsuto e a timidez de suas mãos úmidas
a sólida incerteza a nos abençoar escolhas
ainda que as folhas do livro fatal durmam entreabertas
jamais livrar-se do espanto das descobertas,
e dos enfados pressupostos
valham-me ainda os rostos das palavras
revisitados sob o escopo da vertigem
sua imagem repartida ao infinito
dos espelhos postos frente a frente
a medida transluzente de suas inflexões,
sempre sabendo a origem e voragem,
ora retornando ao chão semântico,
ora alçando cânticos de coração.
será assim que o advérbio "quando"
mesmo tendo intacta a interrogação imanente,
trará, urgente, uma porção móvel, as pernas inquietas
de significados, a multicolorida paleta dos poetas,
a noção aberta entre tempo e movimento, história e ação.
a vaga invenção, e sua lição de esforço
a taça súbita, enchida ao transbordo das intenções
a memória das ilusões propositais
seus estratagemas súditos de alguma atenção ingênua –
a tênue alma do fonema, a palavra que vibra em voz
quando a foz abre-se oceânica
mesmo que o canto seja lacônico.
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Quem sou eu

- Renato Torres
- Belém, Pará, Brazil
- Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.