(7.novembro.2008)
a vida é maior que a tua dor
e cabe na flor, nos arredores
do teu sentir. e no porvir
amanhecerá o sal, o cio original,
a cal da natureza na incerteza do real.
a vida é melhor que o teu querer
e sabe o sabor das entregas surpreendentes,
a infância preservada nos intentos,
a força dos inventos imbuídos de milagre,
como a lágrima iminente, o ventre reconvexo,
o plexo solar, e o suspiro da aurora.
a vida é muito mais do que agora,
onde esboças teu receio – é um veio
rodeado de águas idas e vindouras,
e mora no útero mínimo das horas
dilatadas quando oras o evangelho
de simplesmente seres, não importando
que esperes por provável paraíso.
a vida é este relógio impreciso,
o franco improviso que continuará.
...
(15.outubro.2009)
a vida vai além do teu penar
e corre ao largo do que pensas
como se estivesse parada – é a
enseada fluídica, a hidrografia
escarlate que carregas, secreta,
e que, inquieta, refaz constante
os seus percalços no leito
de um mesmo rio.
a vida é este incerto pavio a queimar
cujo comprimento desconheces, mas
que te conduzirá, fatal, à explosão
de existires inteiro, ao fim da ilusão.
a vida é o reverso do não que pronuncias
na redoma que te contraria o desejo
e ora no silêncio do beijo, mora no
rijo intuito de expandir-se, mira-se
na certeza do milagre que esperas.
não retém ou exagera, antes gera
mais de si mesma, exige pulsações,
fluxos vibráteis, presenças plenas.
a vida nunca é pequena quando
a alma olvida, e convida-nos a
ocupar-lhes os aposentos a seu tempo.
a vida é um invento lento, um novelo
feito de momentos a se desvelar.