Gosto de escrever a quatro mãos, e já publiquei algumas parcerias na Página Branca; estranhamente, ainda não havia publicado esta, que nasceu nessa noite como substrato de uma de nossas conversas mais profícuas. O poema, construído verso a verso como num diálogo, tornou-se desde o ano passado o encerramento do espetáculo De Tudo: música+poesia, que realizo com o poeta Renato Gusmão, e o considero emblemático de tudo o que representa ser poeta: um diálogo com algo que não se vê, mas se sente profundamente, como os amigos invisíveis das crianças. Serei sempre eternamente agradecido, Senhora Lua...
vive mais poesia no
olhar
do que nos objetos - afetos de brisa
que fitam palavras de
ternura
balançam nas juras que o vento paralisa
versos celebrados em
candura
que nenhuma escura voz poderá obliterar
nossa escritura
vincular ilimitada
a espada de lírios que empunhas absorta
imensidade cumprida em
segredo sideral
assusta, deveras, os que compreendem mal
mas exalta o universo
dos que amam
há mais poesia porque dela floresces
como as medusas das
praias nuas
como absintos das ruas e vielas multicores
rédeas e rodopios da
vida -
a que consentes, a que conquistas
a que vences sem armas,
com beijos
na planície, sob a aurora do desejo
marcha de sonho e um
reino florido
para teu povo - a gema límpida do futuro
pátria de sermos
17 comentários:
Palavras de ternura, medusas, sonhos e universos contidos numa belíssima poesia!!
Esse poema me lembra algo... não sei já o tinha lido, mas, adorei degustar cada verso pela arte da queridíssima fadinha Luísa e do querido amigo Renato.
Beijos aos dois poetas
Como é bom ter amigos. Amigos com A grande ou tão simplesmente amigos de verdade, que nutrem entre si indubitável sentimento de afeição.
Renato Torres...meu amigo dos não-lugares. Renato Torres, o poeta, o músico.
Aquele que canta os laços cordiais das palavras: amizade, amor, vida...!
E já somos amigos há tanto tempo, vivemos momentos ímpares na troca de sentimentos sinceros, através da poesia.
Renasces nos teus versos cadenciados, filhos de tua alma etérea e pura. Um verdadeiro artista. Líquido, que corre nas veias poéticas da vida.
Fonema. Livre. As tuas palavras rimam com o sexto sentido. São constituintes e movem-se com facilidade, têm volume próprio.
Obrigada por este presente, por guardares com carinho aqueles momentos e a nossa amizade.
Um beijinho,
Luísa
Enternurada!!
Enternurada!
E para que se 'viver mais poesia no olhar" :
viver para poetar é deixar o olhar branco. brando. absorto. torto. todo.
Muito lindo.
Amizade é uma pátria onde sempre cabe mais um.
Beijos nos dois!
pátria de sermos
pátria de sermos
Madalena,
talvez o tenhas lido... talvez o tenhas recordado d'algum sonho - repositório dos poemas que nasceram, nascem e nascerão. tua presença entre nós é certeza de uma ternura sempre renovada.
beijo,
r
Vencer sem armas o Leviatã e a Grande Serpente... Apenas através do corpo e da imanência, do caminho solitário e liberto, ser Camelo, Leão e, finalmente, Criança! E após tantas viagens, marejado e cortado, ainda ter coragem de negar Zaratustra! Ou de devorar a Baleia... Mas nem dói nada, pesa tal qual a mão de uma criança, o amor é eterna inocência, não, querido mestre? O Cavaleiro da Triste Figura ainda teima em usar suas vestes e jamais estará nu: arte é tear!
Vencer sem armas o Leviatã e a Grande Serpente... Apenas através do corpo e da imanência, do caminho solitário e liberto, ser Camelo, Leão e, finalmente, Criança! E após tantas viagens, marejado e cortado, ainda ter coragem de negar Zaratustra! Ou de devorar a Baleia... Mas nem dói nada, pesa tal qual a mão de uma criança, o amor é eterna inocência, não, querido mestre? O Cavaleiro da Triste Figura ainda teima em usar suas vestes e jamais estará nu: arte é tear!
Luísa...
recebi um presente de uma amiga recente, Flaviane Leão, que ama poesia, e ama o que faço: um livro com as páginas em branco, para que eu escreva (volte a escrever!) à mão, porque tenho escrito deveras de forma digital... o presente chegou, imediatamente pus-me a escrever, e veio-me à memória este belo texto que tecemos juntos. jamais deixarei de me emocionar com a força e a potência lírica contida nessas palavras: "há mais poesia porque dela floresces (...) há mais poesia no olhar que nos objetos"... por tudo isso te digo: amo a você, e a tudo que te cerca, sua linda família, meu xará que cuida muito bem de ti, e a dádiva de ter sua amizade, hoje como sempre, certeira como sóis e luas, pela eternidade...
beijos de muita gratidão, minha amiga!
r
Flaviane,
e eu, agradecido!
beijos,
r
Milena,
a frase que citas é antes uma afirmação que um conselho - veja. para nós, a poesia está antes no olhos que na natureza, o que, é claro, podes contestar a qualquer momento. no fundo, poesia é a liberdade de ver a tudo como se queira: todo.
beijos,
r
Ana,
de fato, a amizade é o lugar de tudo caber, inclusive as diferenças e contradições. é o primeiro nome do amor, pois...
beijos!
r
Palo,
e de sabermo-nos...
beijos,
r
Vitor,
sim, o cavaleiro jamais desiste, eis porque se torna eterno, icônico! seremos sempre esta fresta entre o mar e o céu, a nesga luminosa, o encontro do que parece impossível... sigamos juntos, amigo, irmão...!
abraços,
r
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