dei um jeito de ir crescendo
pra surgir noutro lugar
minha vida fui vivendo
indo de aqui até acolá
ando assim como se quando
fosse onde eu queira estar
adormeço e vou sonhando
sem saber como acordar
sem saber se o que escondo
é o mais fundo do que sou
a pergunta que respondo
ao mostrar-me sem pudor
se puder, me faço inverso
do que peço ou do que quis
sempre intenso no que, imerso,
penso ser minha raiz
num país deserto, a neve
de um inverno sem palavra
e meu corpo inquieto e breve
se descreve no que escava
e se encobre no que embebe
de absinto ou de cachaça
o absurdo labirinto
do que sinto, e nunca passa
e não grassa a desventuras
nas paúras descontentes
que me queiram nas funduras
escurezas penitentes
vou tentando ser adiante
antes que a morte surpreenda
e me prenda em seca fonte
donde eu nada mais entenda.
8 comentários:
Querido Renato,
Gosto de sua poesia que mergulha nos versos. Sempre há água no que diz...
E, lendo o poema musical completo, em que "sem saber como acordar", você dá um jeito de fazer isso virando nas esquinas dos versos antes que a morte surpreenda...
Adorei!
Beijos
Ai, meu lindo amigo! Seus escritos são um presente pros nossos olhos, ouvidos e coração. Tocam fundo viu? Obrigada por compartilhar. Beijos de Ana Reis e Anabel.
Encantada, uso de ti e A.Belém pra comentar sua parida de hoje:
...tem um sol na tua palavra
tem um cheiro de café
vai, me conta qual segredo
tem na gente ser quem é?...
A Morte e o mistério sempre rondam, explícitos ou subterrâneos... Mas parece que mostram mais a cara à medida que o tempo passa... Na poesia ou na vida, estão sempre por aí... Há vida? Ah, vida, sempre!... Então siga, poeta, no limiar, no delírio, enquanto for possível.
Evoé!
Madalena,
o mergulho se dá por necessidade, bem o sabes: a água nos completa, porque se nos é adequada... sempre uma alegria te receber por aqui!
beijos,
r
Ana,
minha linda e saudosa amiga, esses versos são uma maneira de tocar teus cabelos distantes, teus ouvidos sensíveis, teus olhos de moça inteligente...
beijos! pra ti e Anabel!
r
Flaviane,
conto segredos como quem desvenda os medos, na feitura de palavras. usas de mim como eu, por minha vez, uso de ti, e de todos, nessa tarefa de ir me dizendo pelos olhos humanos.
seja sempre bem vinda!
beijos,
r
Marat,
a morte e o mistério são irmãos siameses, e passam os meses, os dias, segundos, a acompanhar-nos os passos. creio neles como amigos, e quero tê-los assim, por perto, pra ensinar-me as falas dos desertos, e a língua dos oceanos.
abraços!
r
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