dizem que o ódio é um bicho morto-vivo
primitivo, vem das lendas borgianas
recolhidas entre uma e outra pálpebra
depauperada das canalhas insones
dizem que o ódio é sem nome, mas sempre
assume vestes e corpos de homem,
enverga mosquete, clarim, alforje, seta e besta
e se infesta silenciosamente pelos
roncos da sesta do bairro suburbano
dizem que o ódio é uma invenção dos humanos
que por sua vez, dizem nada ter a ver com ele
sua pele viscosa tem, por vezes, a libido e a bile
misturadas como numa saliva babada incontinente
dizem que o ódio é demente, e nem sente
sua própria existência, é como uma carência
que mente, enquanto tenta provar inocência
põe a forca em pescoços infantes, e deseja
o quanto antes, que seja coroada sua ânsia
por vingança, por preguiça, por ciência.
6 comentários:
O ódio e suas nuânces em forma de poesia viva aqui no teu canto. Sabe, passo meses nesse resguardo de escrever e nas voltas me deparo com escritos como esse...em todas elas sempre me pergunto: por que mesmo fui embora?
Giovanna,
escrever é como finalmente respirar depois de um tempo (perigosamente) submerso. é no verso que se resolvem embates por sobrevivência. há uma certa violência nisso, mas é natural: a natureza é violenta. contudo, o que esse poema descreve está longe da natureza... é a brutalidade desmedida e meditada e premeditada, auditada pelo ministério público e pelo supremo tribunal federal.
beijos,
r
Renato, digo num poema: "SOLVENTE//o ódio/é viscoso/impregna & sedimenta/só o amor o dissolve"
Tenho aprendido, com a vida, e a psicanálise, a reservar um breve momento de reflexão antes de soltar, este Hulk que me habita.
Tem funcionado, algumas vezes.
Belo poema reflexivo e profundo.
Abração.
Ricardo Mainieri
genial!
=O
Maini,
tenho me visto às voltas com esta mesma demanda... é mesmo preciso controlar e encarar este lado negro de nós. belo poema!
abraços!
r
Pat,
feliz de gostares, e com tua visita! e o livro?
beijos,
r
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