(1993)
A
menina sorriu, retorcendo os olhos. Caminhou sobre os cacos de
vidro, a pensar no topo dos edifícios imensos.
Viu o céu se movendo sem pressa, no compasso das nuvens & do vento. Alguns grãos de areia caíram nos seus olhos e na boca, e ela mastigou-os, sentindo a vertigem no horizonte trêmulo & flamejante.
E não ouvia mais os abutres gargalhando concentricamente ao redor de sua cabeça, como uma auréola negra coroando um anjo das trevas.
Fechava os olhos, vagueando com os grãos na retina, num sonho arenoso e sem fantasmas, quando caiu numa espécie de oásis imaginário, tendo orgasmos pueris nas asas dos deuses de brinquedo.
Viu o céu se movendo sem pressa, no compasso das nuvens & do vento. Alguns grãos de areia caíram nos seus olhos e na boca, e ela mastigou-os, sentindo a vertigem no horizonte trêmulo & flamejante.
E não ouvia mais os abutres gargalhando concentricamente ao redor de sua cabeça, como uma auréola negra coroando um anjo das trevas.
Fechava os olhos, vagueando com os grãos na retina, num sonho arenoso e sem fantasmas, quando caiu numa espécie de oásis imaginário, tendo orgasmos pueris nas asas dos deuses de brinquedo.
(2012)
A menina perdeu o medo.
Diante do abismo circundante, ela pensa que, como antes, os edifícios
nunca arranham o céu realmente.
Viu o chão sem mover-se, sem pressa, atravessando as miragens & ausências. Alguns grãos de areia feriram-lhe os olhos e a boca, e ela aceitou-os, seguindo as direções apontadas no horizonte cego & radiante.
E não houve a mágoa de rapina, ou o escárnio predador, nem armadilha dúbia que a coroasse com os espinhos revoltosos da complacência de si mesma.
Abria os olhos, vagas lacrimosas lutavam na tempestade, na vigília assombrosa e sem fantasmas, quando se ergueu numa espécie de ária imaginada, tendo orgasmos sutis nos braços de ouro do desejo.
Viu o chão sem mover-se, sem pressa, atravessando as miragens & ausências. Alguns grãos de areia feriram-lhe os olhos e a boca, e ela aceitou-os, seguindo as direções apontadas no horizonte cego & radiante.
E não houve a mágoa de rapina, ou o escárnio predador, nem armadilha dúbia que a coroasse com os espinhos revoltosos da complacência de si mesma.
Abria os olhos, vagas lacrimosas lutavam na tempestade, na vigília assombrosa e sem fantasmas, quando se ergueu numa espécie de ária imaginada, tendo orgasmos sutis nos braços de ouro do desejo.
6 comentários:
A menina cresceu deixando pegadas na areia. Como certo alguém. Beijo
Deixei-me levar por sua verve, Renato e pude entrar nos sonhos dessa menina que deixou pegadas em minha memória.
Lindo! Parabéns, querido!
(2014)
Abismo de concreto: arranha-céus.
Nuvens vagarosas lágrimas.
A passos lentos, feria o chão, que lhe cuspia fuligens.
Tere,
essa menina, que atravessa décadas entre os dois textos, é de fato bem próxima de ser a própria poesia. ando vendo que talvez ela simbolize a minha escrita, através dos anos... e é bem capaz de, súbito, ela sair sozinha, pelo mundo.
beijos,
r
Ligia,
feliz sempre por te deixares levar pelo que escrevo... você é uma leitora especial!
beijos,
r
F. Silva,
bonito o seu texto provocado. prefiro, de fato, este tipo de provocação, bem mais...!
abraços,
r
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