não deixo de ver a mim mesmo
no rosto tenso do garoto
no rosto tenso do garoto
que me assalta.
não lhe falta a tez robusta
que a juventude lhe empresta
mas de mim toma, rude, à custa
de esbravejar, de brandir a arma de fogo
sob o jugo de um malogro
em que eu caio,
não lhe falta a tez robusta
que a juventude lhe empresta
mas de mim toma, rude, à custa
de esbravejar, de brandir a arma de fogo
sob o jugo de um malogro
em que eu caio,
e minha amiga,
desesperada.
sai, exasperada, à luz fria do meio-dia
aquela cenografia cínica do assalto
à mão armada - e eram três, repetidos
sob o aplique lerdo da tarja preta
três meninos sujos pelo esperma do capeta
ou que apertam a arma que a governança
comenta, entre os comes e bebes da província.
não deixo de ver a mim, à minúcia
de ser eu mesmo vítima e a iminência criminosa
já que a rosa do povo jaz, soturna
à viva-voz, em plena esquina diurna
depauperada aos chorumes da vala mal cheirosa.
sai, exasperada, à luz fria do meio-dia
aquela cenografia cínica do assalto
à mão armada - e eram três, repetidos
sob o aplique lerdo da tarja preta
três meninos sujos pelo esperma do capeta
ou que apertam a arma que a governança
comenta, entre os comes e bebes da província.
não deixo de ver a mim, à minúcia
de ser eu mesmo vítima e a iminência criminosa
já que a rosa do povo jaz, soturna
à viva-voz, em plena esquina diurna
depauperada aos chorumes da vala mal cheirosa.
16 comentários:
eita, renato, que a poesia era mesmo a única a sublimar um troço desses. vamos logo beber uma cerveja, meu amigo.
Edson,
pois sim, foi mesmo uma experiência terrível, e da qual senti que não sairia um pouco mais tranquilo se não escrevesse sobre. Belém - como de resto o Brasil - arde na brasa lenta do crime, que engatinha ameaçador desde a infância.
abraços, mano! vamos marcar essa cerveja!
r
Só você mesmo para sair de um trauma tão profundo quanto esse com um poema tão intenso de palavra e sentimento.
Gostei, forte e leve.
esse é dos fodas com PH...
pelo que conheço, você está cada vez mais técnico...as palavras pingando como uma chuva depois da seca: pouca,suficiente e definitiva para a vida renascer.
abrs mano
Gaya,
eu não tinha outra saída, irmão... ou escrevia o que escrevi, ou virava presa fácil da revolta, do julgamento cínico, da vitimização auto-eximida de qualquer responsabilidade.
abraços,
r
Neuton,
sim, sem dúvida é um texto forte, porque a experiência foi forte... a leveza deixo ao teu olhar. contudo, depois de escrevê-lo, indubitavelmente me saiu um peso opressor - e que me revelava um opressor.
abraços,
r
Luciano,
que belo comentário! mas não sei dizer se estou, de fato, me tornando mais "técnico", ou menos emocional... na verdade, me sinto o mesmo de sempre. mas sem dúvida que os anos de poesia constante vão mostrando suas colheitas. em breve, o livro!
abraços, meu mano querido!
r
Contundente como a sombria realidade que graça (sem graça) nos ermos mudos desse des-mundo...e que venha logo esse livro!
Beijo amigo
.
Desmorrer um pouco nessa vida, meu irmão. A (tua) poesia cumpre o fado: vence o dia.
Abraços,
Daniel Leite
Muito bom Renato! Parabéns pela criança.
Tere,
o des-mundo nos surpreende às esquinas, em plena luz do dia. o livro está a caminho, minha amiga... e te agradeço por teres sempre sido uma torcedora vivaz do advento dele!
beijos,
r
Daniel,
de fato, a poesia pode nos ajudar a sublimar experiências tais... mas é bom lembrar que o mundo das palavras nem sempre é misericordioso... tive sorte delas não me desampararem desta feita...
abraços, querido irmão!
r
Príamo,
no caso, três crianças, né? ou quatro, se te referes também ao poema... ainda que este não tenha o mesmo nível de delinquência daquelas que me assaltaram, refaço o caminho, pelo prazer de tua leitura, mano...!
abraços,
r
Patrícia,
sendo tu a amiga desesperada, que viveu comigo essa desventura, entenderei teu ponto como a bala engasgada: a que ficou parada na garganta, o grito abala, o tiro, a navalha, o furo, a sutura, o medo comprimido, o coração ferido, a injúria, o não-dito, o inaudito, o momento exato, o local no mapa do mundo, o buraco, o fundo, o fato imundo, o cu do subúrbio, o ponto. e fim.
te amo,
r
Postar um comentário