abandonei o relógio de pulso
agora uso, pra marcar o
tempo
cada momento da respiração
cada passo sem pressa
os impulsos do coração
nada mais que me impeça
de sorrir ao compasso lento
do pensamento livre da razão
nada de algemas, nem penas
que não sirvam ao voo leve
corolário dos poemas que
trago
atados a braços firmes
nem mesmo às pernas tontas
remonto à mesma pisada
tenho os pés nus pela estrada
em vertigem de surpresa
agora só ponho a mesa
ao que realmente interessa:
minha fome mais espessa
a presa mais controversa
a que custa a chegar, mas
pesa
na balança sem medida
a carne prenhe de vida
a conversa de lamparina
acesa.
12 comentários:
sempre fico embevecida com o que tu escreves.. saudações meu poeta!
O cheiro de querosene que sai da lamparina me amortece e faz viver só o instante da prosa, sem pressa, sem relógio de pulso, só com a fome de misturar as palavras ditas...
Oh coisa boa é te visitar aqui! Fazia tempo... Lindo!
Já eu ando o oposto disso, num ritmo frenético, o tempo (ou a falta dele) me engolindo...
Parabéns pelo poema!
Bj
Ana Guimarães
Wanda,
teu embevecimento, tua visita, tua pena... tudo me honra com as naturezas e veleidades da arte poética.
um beijo!
r
Chiara,
essa fome de dizermo-nos um ao outro, essa conversa em suspenso, sempre esperando o próximo encontro, a página seguinte a ser escrita... é tudo vida vida vida, sem medida, cem mil vezes vivida.
beijos,
r
P.
que visitar-me te faça o bem que minhas visitas e leituras de ti me fazem... é simplesmente gratificante!
um beijo, cheio dessa gratidão amorosa!
r
Ana,
é claro: na poesia podemos inventar o tempo que queremos. a vida cotidiana, tão sem misericórdia, nos engessa na velocidade alucinante e digital... mas a alma, essa analógica e reticente carruagem rocinante, vem de muito antes, atravessando o tempo sem importar-se. mas tirar o relógio de pulso ajuda um bocado, viu? =)
beijo,
r
Lindo Re! Sem pressa é bom mesmo que custe a chegar... A gente vai fazendo da vida o nosso road movie. E quando chegar a gente continua a viagem pra chegar de novo em outro lugar, mas sempre voando leve né?
Beijo,
Lari
Lari,
sim, sem pressa, sempre essa mesma surpresa: a circunstância adversa, a que não pisa em falso na defesa de tudo que começa. seguiremos adiante, na viagem...
beijos,
r
O tempo... perfeito o texto!
Samantha,
muito agradecido pelo comentário generoso!
abraços,
r
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