sempre me surpreendi que a palavra "mesmo",
ainda que tenha uma função assertiva, de confirmação
traga em sua narrativa uma parte a esmo, sem direção,
a suspeição enferma de sua própria condução,
certa predileção por abismos ermos,
por erros sem perdão, e por perdermo-nos sem conta.
a tonta compreensão, e sua feição de esboço
o torso hirsuto e a timidez de suas mãos úmidas
a sólida incerteza a nos abençoar escolhas
ainda que as folhas do livro fatal durmam entreabertas
jamais livrar-se do espanto das descobertas,
e dos enfados pressupostos
valham-me ainda os rostos das palavras
revisitados sob o escopo da vertigem
sua imagem repartida ao infinito
dos espelhos postos frente a frente
a medida transluzente de suas inflexões,
sempre sabendo a origem e voragem,
ora retornando ao chão semântico,
ora alçando cânticos de coração.
será assim que o advérbio "quando"
mesmo tendo intacta a interrogação imanente,
trará, urgente, uma porção móvel, as pernas inquietas
de significados, a multicolorida paleta dos poetas,
a noção aberta entre tempo e movimento, história e ação.
a vaga invenção, e sua lição de esforço
a taça súbita, enchida ao transbordo das intenções
a memória das ilusões propositais
seus estratagemas súditos de alguma atenção ingênua –
a tênue alma do fonema, a palavra que vibra em voz
quando a foz abre-se oceânica
mesmo que o canto seja lacônico.
4 comentários:
Você é mais Poeta a cada linha, Renato.
Muito me honra o convite para lê-lo.
Parabéns, vate querido!
Mesmo quando a distância é vasta, a presença acontece. Deste lado do oceano, sinto a voz das tuas palavras a desaguar na imensidão da poesia.
Um beijo,
Luísa Ribas
Lígia,
E me honra cada presença tua. Nesses dias que correm, socorre-me a circunstância da amizade e da poesia...
Beijo,
r
Senhora Lua
A tua fala me preenche desde sempre, nas imensidões oceânicas da amizade, da saudade, da vontade da presença. Te agradeço por nunca me falhares!
Beijo,
r
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