estendo as mãos sob o manto morno
do dia: intento sem ruído.
as árvores aguardam, mudas,
o carvão no hálito dos automóveis.
sem tempo, tenho os cabelos úmidos
como os de um recém-nascido,
e recendo um júbilo amniótico,
curvado sobre o pequeno caderno,
como o firmamento afaga as
indecisões deste mundo.
a página abraça-me os olhos,
compreensiva, e sem anseios.
sinto sua respiração ao recostar
a cabeça em seu regaço.
é quando ouço gorjear, do ínfimo
a primeira palavra.
inerência da linguagem mormente na página branca: a potência da semente, a semântica do mote cotidiano, sem planos. poesia para o enfrentamento do que inexiste, mas urge. grafias caboclas e indígenas por ascendência, oriundas de uma terra feita de águas intensas. poemas registrados na Fundação Biblioteca Nacional - RJ
quinta-feira, dezembro 10, 2009
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Quem sou eu
- Renato Torres
- Belém, Pará, Brazil
- Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.
15 comentários:
Renato
Tua poesia sempre me faz perder o fôlego, desde os tempos do overmundo. :) Beleza rara, a tua escrita.
bjo.
Nascidas a cada sopro Re-nato: tuas palavras quebram o silêncio sem machucá-lo.
Abraço
a segunda estrofe é de uma beleza que, agora, vai estar sempre intacta. arrebentou, camarada.
Incrivel e verdadeiro!
escrevemos numa página branca
toda a poluição da terra e suamos sob as mazelas do mundo, indecisos, fitando o infinito.
bjs
Égua, Renato,tu és infalível com as palavras! É tudo muito bom tudo aqui n'A Página Branca.
nydia,
o fôlego, este signo da criação, é também tomado, miticamente, de quem, por se sentir possuído por tais deuses imemoriais, reconhece-se cativo. agradeço o teu fôlego sacrificado, tão carinhosamente.
beijo,
r
tere,
vens também falar do sopro - e creio-me tocado pelo vento na página. nada mais delicado do que quebrar sem machucar.
um beijo!
r
edson,
cada comentário que teces é honroso. aqui, ao retomar o tema que move o blog, fui surpreendido pela analogia onírica de um corpo que, ao se curvar sobre um caderno, é como um céu cobrindo um planeta. e, como bem sabes, escrever é uma espécie de nascimento - e para mim, em particular, um renascimento.
um abraço!
r
doroni,
tua visão sobre o que escrevi é oportuna e dolorosa. afinal, escrevemos (como já disse em outro poema) sobre resquícios de árvore. e daí vim reparar que, no verso em que falo sobre as árvores que aguardam mudas o carvão dos automóveis, estou metaforizando a triste escrita da destruição do planeta.
um beijo,
r
fabitcho,
a infalibilidade é mesmo uma quimera, e um agrado no meio das tuas palavras amigas!... sabes que estou sempre à espera da nossa próxima parceria.
abraços!
r
Tá bonito, mestre, parabéns. Bom com a guitarra, bom com as palavras também. Um abraço e espero que nos encontremos novamente, para mais interações poéticas e musicais entre o norte e o sul.
Sempre linda esta sua página branca. Que é como recebo suas palavras.
Álvaro,
mas que prazer te receber aqui!... a beleza, que sei conheceres bem, é que agradece olhos atentos como os teus...! também espero para breve esse reencontro de interações poético-musicais!
abraços,
r
Maria,
sim, receba sempre minhas palavras, elas foram feitas pra isso mesmo: serem dadas, sem subterfúgios. o resto silencia.
beijo,
r
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