(7.novembro.2008)
a vida é maior que a tua dor
e cabe na flor, nos arredores
do teu sentir. e no porvir
amanhecerá o sal, o cio original,
a cal da natureza na incerteza do real.
a vida é melhor que o teu querer
e sabe o sabor das entregas surpreendentes,
a infância preservada nos intentos,
a força dos inventos imbuídos de milagre,
como a lágrima iminente, o ventre reconvexo,
o plexo solar, e o suspiro da aurora.
a vida é muito mais do que agora,
onde esboças teu receio – é um veio
rodeado de águas idas e vindouras,
e mora no útero mínimo das horas
dilatadas quando oras o evangelho
de simplesmente seres, não importando
que esperes por provável paraíso.
a vida é este relógio impreciso,
o franco improviso que continuará.
...
(15.outubro.2009)
a vida vai além do teu penar
e corre ao largo do que pensas
como se estivesse parada – é a
enseada fluídica, a hidrografia
escarlate que carregas, secreta,
e que, inquieta, refaz constante
os seus percalços no leito
de um mesmo rio.
a vida é este incerto pavio a queimar
cujo comprimento desconheces, mas
que te conduzirá, fatal, à explosão
de existires inteiro, ao fim da ilusão.
a vida é o reverso do não que pronuncias
na redoma que te contraria o desejo
e ora no silêncio do beijo, mora no
rijo intuito de expandir-se, mira-se
na certeza do milagre que esperas.
não retém ou exagera, antes gera
mais de si mesma, exige pulsações,
fluxos vibráteis, presenças plenas.
a vida nunca é pequena quando
a alma olvida, e convida-nos a
ocupar-lhes os aposentos a seu tempo.
a vida é um invento lento, um novelo
feito de momentos a se desvelar.
20 comentários:
Maravilhoso escrito.
Em diferentes datas, o testemunho, de palavras que perseguem o horizonte do futuro, embaladas pela certeza infinita que reveste a vida e o amor.
Só a vida e o amor valem a pena. Principalmente quando é vivido e sentido assim: com tanta delicadeza e sensibilidade.
Bem hajas, Renato Torres.
1 Bj*
Luísa
Li um trecho que enviaste ao meu e-mail e vim conferir o resto.
Realmente muito bom Renato, és além de um ótimo músico, um poeta sem explicação!
Adoro teu trabalho.Abraços
http://relatoosdavida.blogspot.com/
Poesia e filosofia em grande estilo. Evoé!
A plenitude irrefragável de existir transcende o tempo, não o invento do poeta e a sua madurez. Caro és ao dizer, amigo Renato.
Um abraço
És ela propriamente dita,a vida! Bem aventurados que somos dessa tua imensidão não caber em ti e derramar pelas bordas pra nos.Tuas palavras,cada uma,é colo pra mim.
Bjó
É no presente que me cruzo com as tuas “águas idas e vindouras”. Foi também o momento em que cruzaste ambos os poemas… continuação de um mesmo curso de água, por diferentes paisagens?
Desejo-te um "pavio" muito longo que possas queimar com deleite.
Maria
Tem razão o seu coração, querido Renato Torres, quando poeta que a Vida é muito mais, pois flui a cada instante e muitas vezes a deixamos correr na enxurrada.
Beijos.
Genial - e de prima!
simplesmente soberbo!!
senhora lua,
sim, apenas a vida e o amor: sinonímias. e muito mais ao percebermos que escapam das bordas, como já comentou alguém por aqui. bem haveremos de nos reconhecer sempre, minha irmã!
beijo,
r
jean,
a única explicação possível a um poeta são ses próprios textos... e ainda assim,já disse o quintana, um poema não carece de explicação, e nem mesmo é uma explicação. mas a tua sensibilidade e tua busca são bastantes para refulgirem suas descobertas.
abraços,
r
marat,
sim, também creio na poesia como uma forma de filosofia, uma forma, digamos, menos comprometida com a seriedade existencial do pensamento filosófico... mais relaxada, muitas vezes mais profunda, outras mais simples e funcional. obrigado por vir!
abraços,
r
tere,
a fome de existir, dirá sempre, mudamente, de tudo. quanto mais soubermos, menos diremos, eis o que pressinto, ingenuamente. me é caro, ainda, dizer, mas um dia, talvez, será mais caro ainda o silêncio de simplesmente ser.
beijos saudosos!
r
meu caro anônimo,
ainda que sem saber (porque não me deixas) quem és, não posso deixar de agradecer tua deferência, teu carinho - certamente de alguém próximo. fico feliz que as palavras te dêem colo, assim também elas o fazem comigo.
abraços,
r
maria,
gosto de recriar situações já escritas, de recuperar idéias de outros poemas, de cruzar referências dentro de meu próprio trabalho. é uma "brincadeira de dizer um tanto mais" com o que já disse antes. que bom que encontraste com esse cruzamento agora, e que podes acenar com teus bons augúrios.
beijo,
r
madá,
meu coração é um errante, e suas razões, como ele, resvalam sempre na humanidade deposta, sangrante, desabrida, que por vezes desemboca num poema. que bom que aqui nos encontramos e nos reconhecemos.
um beijo!
r
benny,
o gênio está em reconheceres, sempre, a nossa irmandade na palavra... o resto é silêncio.
abrações!
r
zimerer,
minha querida, soberba é essa tua rara e querida visita!
um beijo, e apareça!
r
Envolvida pelo cansaço e solidão da escrita da tese lembrei-me de sua poesia, resolvi vir atrás do seu blog e eis que encontro a “vida”. Nesse momento só posso dizer: obrigada por compartilhar sua poesia, ela me embala e ao mesmo tempo me desperta...Como a vida.
Lucília,
é sempre uma certeza e uma surpresa reconhecer em pessoas certas características que as tornam especiais, com aquele diferencial que nos torna profundamente humanos, vivos, atentos, dispostos ao milagre. vejo isso em ti desde há muito, e por isso, é surpreendente e ao mesmo tempo certeiro que venhas aqui, e me digas tais palavras. eu também te agradeço muito por encher de vida estas palavras que, de outro modo, poderiam boiar, indefinidas, por estes frios mares virtuais.
beijo,
r
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