Então, cubra de delicadeza esse corpo já deitado em palavra,
e com a lisura vagarosa do tempo, ouça o trote longínquo,
a moçada gritando aos bardos, aos bandos,
naquela clareira, em estrépitos de argúcia;
as fogueiras sempre foram feitas de gente,
e toda a gente sempre correu fora da luz.
por onde andares, levarás contigo a clava diáfana,
e por onde falares, deixarás comigo a tua armada, armadilha feita de sopro:
a concha de tuas mãos, o rescaldo da inércia, o vinho que envelhece subterrâneo.
e quando voltares, isso será o vazio, uma casa à espera do corpo,
da palavra, e de tudo o que se escondeu diante da terra.
será como a visita de um sonho, essa porta que se abrirá, silenciosa, na madrugada
e a mãe, sentada ao lado da cama do filho.
portanto, dobra desde já esse teu manto feito de escolhas,
e te aproxima da antiga morada -
é na distância que crestam luzes,
e o tempo se cobre de sombra e sol.
deixa as sobras aos que padecem sob tua mesa
enquanto comes, delicadamente, a fortuna dos dias de sorte.
escrito a quatro mãos com Daiane Gasparetto, 4.ago.2009, msn, 13:45.
25 comentários:
Lindo poema!
bj
"Ouvi-te" ontem, na rádio, por acaso, na viagem de regresso a "casa" e desde ontem que leio suas palavras. Que saudades de palavras... Nem eu tinha ideia..
Muito bom ler-te.
oi, anônimo...
que bom seria poder agradecer tua leitura pelo nome... mas obrigado de qualquer forma.
abraços,
r
maria,
as palavras nos embalam mesmo quando não estamos a pensá-las ou a lê-las... porque tudo é feito delas, as coisas têm dentro de si, no bojo, o sopro de palavras... fico feliz de saber que minhas palavras e minha música te afagam pelos caminhos.
beijo,
r
humana que sou, morri de inveja de não par a essas mãos, mas venho saborear suas palavras e tentar resgatar o lirismo perdido.
Sempre me alimentarás a Alma, amigo..
Beijo a dupla
malmal
Meu deus, que lindo!! "será como a visita de um sonho, essa porta que se abrirá, silenciosa, na madrugada".
Amigo Renato, bem sabes que sou "adepta" dos poemas a quatro mãos...e este que trazes com Daiane é bom resultado, desse intercâmbio rico de palavras.
Dois poetas que se unem e comungam do mesmo verbo fazem fortuna. Ditam sorte, quando exultam a luz e a presença da mãe natureza.
2 Bj*
Luísa
Magnífico poema, perpetrado por dois poetas que merecem este nome.
A riqueza das imagens, a música que emana dos versos, tudo numa sincronia perfeita.
Parabéns Renato e a sua companhia poética.
Abraço.
Ricardo Mainieri
alma,
não há nada que impeça nossas mãos em darem-se, a qualquer tempo, para o ofício das palavras e da amizade. portanto, não carece teres qualquer inveja disto... fazes parte, sempre, do que se disser em beleza... fico feliz em alimentar-te, alma, sempre.
beijo,
r
lucília,
a beleza, como já se disse tanto, está nos olhos, na alma, no coração de quem vê, como um sinal de reconhecimento: ver e reconhecer-se.
beijo,
r
luísa,
bem sabes apreciar aquilo que surge de uma verdade indiscutível. e sendo tu também uma das mais formidáveis parceiras com quem já tive o prazer de escrever a quatro mãos através do msn, tens toda a propriedade em tuas observações. agradeço muito todo esse teu carinho atencioso!
beijo,
r
entrei no seu blog via salamandro... e achei o poema forte-vivo-visceral!
até
Renata
Renato,
Rica construção de conceitos em versos e palavras
E nessa "Fogueira de Vaidades" as pessoas se perdem esquecendo a essência de tudo ou seja as coisas que fortalecem o espirito e personificam o ser,isto sim(creio) é a nossa verdadeira Fortuna.
bjs
Que lindo, vai me servir de inspiração...
Posso te linkar no meu blog?
Abraços!
Lindo poema, ótimo demais!
Querido Menestrel
e poetisa Daiane Gasparetto,
fortuna, é a de quem os lê: quatro mãos que, com um par de asas, a mim me parece um tipo de Pégaso ou - ainda mais forte - sendo estrelas as vossas palavras... a constelação boreal.
Qualquer dos modos, a imortalidade da primeira metáfora ou a universalidade da constelação dão-lhes conta da sensação que foi ler o vosso escrito.
beijo de irmão
RR
Oi Renato,
Foi muito legal vc reaparecer.
Visite o blog do meu grupo:
haikai-pulso.blogspot.com
Abraços,
Elisa (BH)
maini,
merecer o nome de poeta, pra mim, significa bem mais do que um título garboso, a suscitar a admiração de quem lê. é mesmo uma espécie de signo invisível que, como numa irmandade secreta, identifica os que estão atentos aos menores movimentos da vida, e os glorifica, atenuando por vezes sua violência e sangria, na composição de textos, de pequenas alegorias de palavra.
abraços, mano!
r
olá Renata,
que bom que entraste aqui, e encontraste esta página branca - ora preenchida dessa força-vida-visceralidade que te chamou. ela se deve a uma parceria de verdadeiro amor e amizade.
beijo,
r
Doroni,
muito oportuna a imagem da "fogueira de vaidades", que é esse nosso mundo. impossível não remeter-se à ela quando, diante da tragédia iminente espoucando aqui e acolá, ainda há quem se preocupe com inutilidades decorativas. há que aquecer-se na humana fogueira do coração, a morada primeira do espírito, a verdadeira fortuna, como bem disseste.
beijo,
r
Edmar,
que bom saber que te inspirará! linke o quanto quiser!
abraços,
r
Jean,
bom saber que apreciaste a nossa fortuna...
abraços,
r
Ribas,
tua voz de mestre não engana, e muito menos se engana em reconhecer-se, em asas de mito, ou em sanha de astros celestes. as mãos que se dão ao poema mais recebem o afago do que afagam, vestidas pelo algodão cru da palavra, buscando entre escuros e lampejos, o entrelaçamento provável. bom é saber que há olhos como os teus, a lerem o que, laicos, vamos escrevendo.
abraço-te, irmão.
r
Luci,
bom saber da comunidade. vou lá visitar.
beijo,
r
Elisa,
bom demais foi poder voltar a ter contato com pessoas tão maravilhosas como vocês... agradeço imenso essa amizade!
vou visitar o blog!
beijo,
r
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