há este lugar, obtuso como quase toda arquitetura, onde há vazio faminto por dizer-se. a sala objeta certezas continentes... apenas doa-se, dissoluta, ao que se queira fazer-se a habitá-la.
escolhemos o risco de não saber, abrindo livros como runas em língua morta – ou para além, transtornando o que era inteligível, o que orbitava em brilho de tese, nas profundezas guturais da pré-linguagem – o que já é linguagem, porquanto. viver seguiu-se como alimento e recurso empírico, mas a sala esturgia como uma vulva em cio, e passamos meses a movermo-nos, a suar, gritar, cantar, a exaurirmo-nos ao desfalecimento. a sala modificava-se, imbuía-se a arquitetura outrora fria dum sangue invisível, mas presente. a cama do chão fumegava sob o toque de nossos pés, mãos, corpos retorcendo-se na busca do soma, dilatação extra-cotidiana, matéria bruta pronta ao projeto de três pilares conceituais: Artaud, Nietzsche e Jim Morrison.
depois de algum tempo, decidimo-nos a encontrar nossas personas arquetípicas, e foi então que três imanências acederam aos nossos esforços, três entes xamânicos, cada qual sob um signo elemental: terra, ar e fogo. “e onde a água?” foi quando nos demos conta que essa água, a mesma de nossos suores, e do sangue invisível, a mesma que erguemos nas taças das pálpebras quando exaustos e feridos de morte – a doce e inevitável morte do ego nos processos criativos – a água é o ocaso do planeta, a incerteza última, a falta descriante. nos pareceu oportuna a sua quase ausência. “quase”, porque ela está lá, no parto de Gaia, pelas mãos das Áyamins, irrigando seu estertor ao dar à luz os xamãs gêmeos... está nos suores e vapores concentrados no Vôo Mágico e no Domínio do Fogo... e, finalmente, está lá, no fim, lavando os corpos egressos da jornada arquetípica.
“Quando a Música Terminar” – diz o nome do espetáculo – restarão apenas fantasmas, os ecos assombrosos da(s) voz(es) de Artaud, faca de duas pontas; a reverberação límpida e mântrica das melodias embebidas de poema de Jim Morrison – que a platéia tentará, inutilmente, reter em gargantas secas de medo – e o enredo final, onde Nietzsche, atônito ao perceber que os deuses dançantes eram um simulacro, constatará o erro monstruoso da existência sem música (água sonora). uma solidão instransponível e sem sentido.
escolhemos o risco de não saber, abrindo livros como runas em língua morta – ou para além, transtornando o que era inteligível, o que orbitava em brilho de tese, nas profundezas guturais da pré-linguagem – o que já é linguagem, porquanto. viver seguiu-se como alimento e recurso empírico, mas a sala esturgia como uma vulva em cio, e passamos meses a movermo-nos, a suar, gritar, cantar, a exaurirmo-nos ao desfalecimento. a sala modificava-se, imbuía-se a arquitetura outrora fria dum sangue invisível, mas presente. a cama do chão fumegava sob o toque de nossos pés, mãos, corpos retorcendo-se na busca do soma, dilatação extra-cotidiana, matéria bruta pronta ao projeto de três pilares conceituais: Artaud, Nietzsche e Jim Morrison.
depois de algum tempo, decidimo-nos a encontrar nossas personas arquetípicas, e foi então que três imanências acederam aos nossos esforços, três entes xamânicos, cada qual sob um signo elemental: terra, ar e fogo. “e onde a água?” foi quando nos demos conta que essa água, a mesma de nossos suores, e do sangue invisível, a mesma que erguemos nas taças das pálpebras quando exaustos e feridos de morte – a doce e inevitável morte do ego nos processos criativos – a água é o ocaso do planeta, a incerteza última, a falta descriante. nos pareceu oportuna a sua quase ausência. “quase”, porque ela está lá, no parto de Gaia, pelas mãos das Áyamins, irrigando seu estertor ao dar à luz os xamãs gêmeos... está nos suores e vapores concentrados no Vôo Mágico e no Domínio do Fogo... e, finalmente, está lá, no fim, lavando os corpos egressos da jornada arquetípica.
“Quando a Música Terminar” – diz o nome do espetáculo – restarão apenas fantasmas, os ecos assombrosos da(s) voz(es) de Artaud, faca de duas pontas; a reverberação límpida e mântrica das melodias embebidas de poema de Jim Morrison – que a platéia tentará, inutilmente, reter em gargantas secas de medo – e o enredo final, onde Nietzsche, atônito ao perceber que os deuses dançantes eram um simulacro, constatará o erro monstruoso da existência sem música (água sonora). uma solidão instransponível e sem sentido.
7 comentários:
Música também é fogo invisível que nos atiça a alma. Quando o fogo terminar, ele levará consigo toda a energia de que é feita a música, a essência. A água que alimenta é a mesma que apaga. Se nos roubam a luz crepitante, voamos em direção à escuridão que nos espera Dionisio, frio e fraco sem o êxtase que o vivifica. Somos encadeiados de terra, ar, água e fogo, sem um desses elementos, somos pó sem substância, seres sem voz e música. Quando o fogo terminar, manifestamos a vida, já que nos é tirado parte essencial dela..,
A música é o ritmo que embala a vida, é o que determina a emoção das cenas que vivemos, é o que complementa as entradas que fazemos...
Sem música não existe poesia, filosofia, malandragem...
Sem música, não existe vida.
Sem música, não existe nada.
Teu texto corre como o fogo. Canta como o ritual. Esclarece como a água do barro e transpõe em palavras aquilo que realmente se vê no chão daquela sala de corpo.
Sala de corpo que vcs transformam em sala de amor, de ódio, de sexo e da queima de tudo que ali se faz presente, de repente. Sala das plurais sensações, sentimentos. Sala de tudo.
E quando a música terminou?
Naquele plural fulgáz (que levou alguma coisa de mim ao asistir que ainda não descobri) de súbito foi-se o que era belo se ver e acompanhar. E, ainda que para atores nus o espetáculo tenha chegado ao desfecho, pra quem assiste não. É quando se descobre o maior barato de tudo aquilo.
A música só está começando...
Meus parabéns.
Sempre me fascina esse salto do hiper-texto, da linguagem-uma que se transforma em linguagem-outra - daí minhas adaptações de músicas para quadrinhos, de poesias para vídeos.
Você transformou um espetáculo teatral em uma crônica poética, ou em poesia pura e simples. O texto sobrevive por si só, independente do leitor ter visto ou não o espetáculo. Isso tem uma força e um mistério que me deixa - como diria Haroldo Maranhão - "desbussolado". É um dom e um privilégio para quem escreve; mas escrever bem, como você faz, com qualidade, é coisa que só se consegue pelo próprio esforço e mérito. Isso é só seu. E não é maravilhoso?
Renato, bom dia, sou editora da Revista Flaner,de Poços de Caldas/MG
www.flaner.com.br e www.revistaflaner.blogspot.com
gostaria de publicar seu poema "Flâneur", na edião de janeiro da revista, podemos? Obrigada Bibi Rodriguez (35) 3722.7149
Renato, obrigada pelo poema!! Entre no Site www.flaner.com.br, tem um grupod e psicólogos escrevendo sobre o termo. Mas estamos abertos a sugestões, textos, etc. Mas tem que ser pequeno 900 caracteres no máximo. Bibi
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