Neste estranho hiato de postagens aqui na Página Branca, recebi diversas vezes os questionamentos inevitáveis: por quê? Talvez para reiterar a metáfora óbvia do silêncio em relação à este branco sítio? Nada disso. O fato é que alimentei esperanças que não se cumpriram, naturalmente, e que me acomodaram neste silêncio de tantos meses. Contudo, e percebendo o grande interesse que este blog desprovido de atrativos visuais (não consigo nem ao menos carregar uma foto minha, creiam) desperta em alguns seres, resolvi voltar a publicar meus textos aqui (venho publicando periodicamente no Overmundo), e começo com um texto que pouco foi lido por lá, sequer chegou a ser publicado no banco de cultura - consta apenas em meus arquivos. Espero que os antigos e novos visitantes o apreciem. É bom estar de volta.
Tempo maduro
ouço rumores que soçobram pela tarde
vapores da arte queimando-me os olhos
e os tantos embrulhos da realidade
a que não me cabe naquilo que escolho.
desenho em suores meu esforço caçador
vagido ordenado em canções que detenho
esbaforidas e renitentes como um tremor
do animal sem freio, do urro tamanho.
cobre a ti mesmo de célere espera,
e verás, varrer a terra, o inesperado
residindo na máquina, no músculo, na têmpera
os ardis do pensamento não invocado.
a mão do que entendo não colhe
esta água turva que avassala e afoga
e obriga ao tempo maduro que tolhe
o impulso secreto do que não se joga.
ensaio este salto no palco intranquilo,
rescaldo de sonho queimando na testa.
volto à longitude esguia, e vacilo
entre o que viceja, e o que detesta.
inerência da linguagem mormente na página branca: a potência da semente, a semântica do mote cotidiano, sem planos. poesia para o enfrentamento do que inexiste, mas urge. grafias caboclas e indígenas por ascendência, oriundas de uma terra feita de águas intensas. poemas registrados na Fundação Biblioteca Nacional - RJ
quinta-feira, setembro 27, 2007
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Quem sou eu
- Renato Torres
- Belém, Pará, Brazil
- Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.
19 comentários:
Que bom que regressaste a esta casinha!!
Me sinto tão pequenina diante da tua madura poesia que nem sei mais o que sou.
"É tempo maduro,
É hora de voltar
Para casa."
Beijos.
Eduarda Petry
O regresso sinaliza abertura ao novo,um renascer.
Vivas ao seu regresso!
Abração
Brigitte
Que bom! Sempre lia a página branca! É ótima, que os teus textos são muito bons!
Um blog que curto muito à ativa! Pai-dégua!
Abrações, Renato
Bom retorno, Renato,
e que bela poesia.
Sabes bem (espero que sim) o quão pouco importa a votação no Overmundo. Muito e' questão dos contatos que se tem e de convidar-se a ler e votar. No ultimo texto que postei, não avisei ninguem, `a exceção de 2 ou 3 pessoas que manifestaram a falta dos meus textos ou pediram para serem avisadas. Tive os votos necessarios, mas poderia nao ter tido: para mim pouco importa a quantidade, mas o carinho e a sinceridade da presença.
Um grande abraço,
e siga escrevendo e musicando (aqui e la'...).
oi eduarda,
como já disse, muito desse regresso devo a ti, à tua insistência. pelo que escreves neste hai cai ao fim, não pareces tão perdida assim. pelo menos sabes pra onde voltar, né? sigamos na busca.
beijo,
r
olá brigitte,
sim, sempre esta reafirmação do que meu nome anuncia. agradeço teus vivas, e distribuo resmas de páginas, brancas...
beijo,
r
mano fábio,
sem dúvida que experiências como as que temos vez por outra no artesanato alimentam muito o que vai por aqui... e vice-versa! sim, é bom pra mim também receber sempre os grandes amigos como és na minha casa de palavra.
abração!
r
letícia,
sim, sei bem o motor que move o overmundo. também fiz uma experiência semelhante com meu último texto, mas acabei convidando as pessoas a lerem quando entrou em votação (apenas duas compareceram sem convite à edição). não importa. entre muitos sempre encontraremos com quem trocar coisas bacanas. obrigado por vir!
beijo,
r
ah! Quanta saudade de sua palavras, que trazem malmal de volta a essa alma quase perdida...
meu Tempo tb...
te beijo
Renato,
eu nao cheguei a receber nenhum comentario seu em meu blog. O comentario que eu havia excluido era da Rita Costa, tambem do Overmundo, que trocara meu nome por confusao. Avisei-a e recebi uma nova mensagem...
Acabei de te responder sobre isso la no meu blog.
Conto com um novo comentario teu, o qual vou certamente adorar receber.
Um abraço,
Leticia.
meu anjo da janela
Saudades imensas...
Delicioso retorno
Beijos
Sílvia Paiva
alma,
saudades dessa troca... que bom poder receber tua visita sempre.
beijos,
r
letícia,
esclarecido o mal entendido, já comentei lá no seu blog.
um beijo,
r
sílvia,
minha querida... como estás? saudades também. precisamos abrir de novo essa janela pra bater um papo.
beijos,
r
Renato, passo agora por esse periodo de aguas mais mornas, mas, estou bem com isso. Faz parte do movimento da vida, eu acho... gostei do poema, so para variar,
bjs
aninha laforga
Enfim, espantou a preguiça, hem? E voltou bem, com um discreto desabafo: "e vacilo, entre o que viceja e o que detesta." Ah, esse existencialismo sartreano que não nos abandona... O que fará a cabeça do século 21?
Abraços e sucesso sempre!
aninha,
sim, creio que as entressafras são necessárias, e não significam estagnação, como muitos pensam. continuamos a produzir num outro nível extremamanete importante: o da vida cotidiana. tão bom receber sua visita! apareça sempre...
beijos,
r
marat,
pois é, menino... acredito que o existencialismo impera porque sartre foi muito além do que acreditávamos quando postulou suas idéias. essa esquizofrenia que se aprofunda com os dias que correm 9e tudo o mais que corre alucinadamente) é o que mede o tamanho de nosso problema de sempre: existir em face do mundo (na fala de drummond).
abraços,
r
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