desfiz o fio de sangue que me deste
e que trazia atado ao pulso destro
mas sem despir, contudo, o que me veste
o agasalho morno do que sinto
longe de ti, no fundo labirinto
deponho a sanha rija que consome
e ao pé de mim, sei bem o que não minto:
a fome, a fé, a faca, o fogo claro
seguro nas mãos o segredo raro -
um punhado de relva corriqueira
escondo em aparente desamparo
a inteireza materna da terra
meu pulso nu, que a nada mais se aferra
meu coração, estampido vermelho
lutando anônimo em perdida guerra
o espelho insistindo no que existe
...e eis que o fio de sangue 'inda resiste.
inerência da linguagem mormente na página branca: a potência da semente, a semântica do mote cotidiano, sem planos. poesia para o enfrentamento do que inexiste, mas urge. grafias caboclas e indígenas por ascendência, oriundas de uma terra feita de águas intensas. poemas registrados na Fundação Biblioteca Nacional - RJ
segunda-feira, setembro 05, 2005
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Quem sou eu
- Renato Torres
- Belém, Pará, Brazil
- Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.
4 comentários:
renato,
qual a mágica empreendida sobre o silêncio entre nós - poetas, carne e osso, homens -, capaz de tornar o silêncio em aperto tão firme? que faz dos espaços vazios unidade, união, poesia eloquente? como é que a tua boca, mesmo sendo tua, fala por tantos outros?
digo isso porque esse foi outro daqueles teus poemas que, juro, poderiam estar na minha lápide ou carta de suicídio. (tão previsível! mas antes a mesma dor doer pra sempre do que alternar várias de plástico.)
as coisas estão mudando? amadurecendo. acho que é preciso sorte no decorrer do caminho, mesmo já sabendo onde vai dar (as espirais...). a gente sabe onde vai dar desde o começo, não é mesmo? ...ah, saudades...
"sem despir, contudo, o que me veste"
Aqui encontro a essência da tua alma a brindar a existência, querido Renato.
1 Bj*
Luísa
lóri,
tão gratificante reler o teu comentário, numa identificação profunda, numa doação a um só tempo fraterna e amorosa... as coisas mudaram, sem dúvida. mas permanece a verdade do que disseste: "antes a mesma dor doer pra sempre do que alternar várias de plástico".
um beijo,
r
Luísa,
a essência da minha alma, aqui encontrada por ti, é de uma dor profunda. mas também de um grande amor. existir é mesmo um enfrentamento.
um beijo,
r
Postar um comentário