meu pai vinha de lá das terras duras,
se chegava até mim, ainda menino
e dizia: “filho, amigos cabem
na palma de uma só mão.
um punhado de segredos
com que se pode contar”.
via meu pai descansar,
arranhando a minha mão na
aspereza de sua barba nascente,
ouvindo o gorjeio quente
de sua calma digestão.
parecia frágil então, deitado
co’a mão à testa, sorria
pelas arestas de sua engenharia.
dada hora, se erguia a cavalo
de batalha, o meu pai feito navalha
aparou-me as sobras, apontou-me
as cobras minúsculas camufladas
nas veredas do amor, e da solidão.
o meu pai foi pião, e rodopiou sozinho
construindo à roda um ninho onde pude
desembocar, amiúde, em meu caminho.
inerência da linguagem mormente na página branca: a potência da semente, a semântica do mote cotidiano, sem planos. poesia para o enfrentamento do que inexiste, mas urge. grafias caboclas e indígenas por ascendência, oriundas de uma terra feita de águas intensas. poemas registrados na Fundação Biblioteca Nacional - RJ
domingo, agosto 14, 2005
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Quem sou eu
- Renato Torres
- Belém, Pará, Brazil
- Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.
8 comentários:
meu caro, você não desiste desse extravasamento da sua alma em público; coragem a sua, e eu de cá, teu Duplo e teu Outro, observando...
E eu passageiro desse seu terminal, vira e mexe me encanto com essa sua alma desnuda.
Bj.
E me levaste às lágrimas, intercaladas com algumas lembranças... Doces, inclusive. E novamente me levaste às lágrimas... Sabes porque...
Te amo!
já havia lido este poema e achei belo. agora se tornou mais. cresceu. porque agora sei: tem signos que te revelam. (psiu, não conta pra ninguém: nele mora o menino!)
Henry,
faz tanto tempo que comentaste, mas não deixaste de ser meu Duplo e meu Outro, deveras... cada vez mais mergulhado na admiração por ti, te reverencio e louvo a verve companheira, na amizade e na música.
abraços,
r
Vital, parceiro...
vira e mexe te encantas, e vira e mexe eu me lembro que precisamos seguir parceiros... quando faremos a próxima?
abraços, mano!
r
Helaine...
minha amiga, sumida e silenciosa: és a rosa querida que, mesmo seca, renasce bela, na memória da amizade. te amo também.
beijos,
r
Fabi,
agora me sabes bem mais, portanto me lês melhor que outros que não me saibam... mas ainda assim, o poema se dará sempre em outros planos a cada leitura. me revejo e voejo ao que releio: reescrevo minha candura aprendida.
beijos,
r
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