faço versos como quem lambe
a delicada lâmina afiada
sobre o doce dorso da língua.
faço versos como quem míngua
na escuridão da casa vazia
donde a fera voraz se nutre.
faço versos como quem supre
a si mesmo, sob imensa febre,
sob o credo de tal choque.
faço versos como quem sopre
a brasa moribunda do fogo,
à fervura branda do sangue.
faço versos como quem, lânguido,
inconsciente, empalidece,
a delirar numa prece dúbia.
faço versos como quem nubla
a visão do caminho à sorte,
transfigurando a morte em lenda.
eu faço versos como quem lembra.
inerência da linguagem mormente na página branca: a potência da semente, a semântica do mote cotidiano, sem planos. poesia para o enfrentamento do que inexiste, mas urge. grafias caboclas e indígenas por ascendência, oriundas de uma terra feita de águas intensas. poemas registrados na Fundação Biblioteca Nacional - RJ
sexta-feira, julho 22, 2005
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Quem sou eu
- Renato Torres
- Belém, Pará, Brazil
- Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.
4 comentários:
gostaria de dizer, apenos, que gosto muito do que vc escreve. não necessariamente do que leio, se é que me entende, mas do que sinto, do que se torna rítmico, e as palavras, as palavras..............
lindo verso,
título preciso.
Primeiro eleito,
do passado rumo ao futuro.
Esse poema clama,
roga,
suplica
para tomar corpo de livro...
Marisa,
mesmo depois de tanto silêncio, é possível sentir a verdade do que dizes... realmente o que escrevo não precisa ser gostado, mas sentido; que o gosto seja do sentido, e não apenas a mera apreciação formal de um poema. quem dera meus leitores fossem sempre nessa direção...! eis uma íntima quimera...
beijos,
r
Fabiana,
escrevi esse poema influenciado por Fellini, logicamente, mas menos pelo filme do que pela sua explicação do significado da palavra Amarcord - que no dialeto da região de Rimini (como não lembrar da palavra "reminiscência"?), de onde veio, quer dizer "eu me recordo". o filme, é claro, trata da memória. e eu penso que escrever é, mesmo, lembrar...
um beijo,
r
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