eu saio onde se por a linha do escritor
o sol horizontal da música na cor
bordado em ponto cruz a padecer
lilás
na sua mão, cinema do cantor
divago em verso, e cai a noite ocidental
teatro tão lunar dos corações em vão
filosofia audaz que envolve o tempo e
traz
essa canção, e a invenção de ter nascido
insone
meu sonho virado, imerso no abraço
do que não sei, cantado
na sanha da paixão, na lira da maré
o sonho que trago no peito marcado
na contra luz, recado
lançado ao mar, ao vento, ao léu
a revelar o que se é
eu sei o que seduz a curva das manhãs
componho o que se dá na língua dos xamãs
retalho desse céu da arte, leite e mel
da intenção, vertigem do que sou
assumo a voz do chão, desenho a
escuridão
com nuvens e pincel, esculpo a
direção
do sopro que traduz, e ponho na
canção,
morada sã, a guardiã de tudo que é sem nome.
*letra escrita para melodia de Floriano Santos