Então, cubra de delicadeza esse corpo já deitado em palavra,
e com a lisura vagarosa do tempo, ouça o trote longínquo,
a moçada gritando aos bardos, aos bandos,
naquela clareira, em estrépitos de argúcia;
as fogueiras sempre foram feitas de gente,
e toda a gente sempre correu fora da luz.
por onde andares, levarás contigo a clava diáfana,
e por onde falares, deixarás comigo a tua armada, armadilha feita de sopro:
a concha de tuas mãos, o rescaldo da inércia, o vinho que envelhece subterrâneo.
e quando voltares, isso será o vazio, uma casa à espera do corpo,
da palavra, e de tudo o que se escondeu diante da terra.
será como a visita de um sonho, essa porta que se abrirá, silenciosa, na madrugada
e a mãe, sentada ao lado da cama do filho.
portanto, dobra desde já esse teu manto feito de escolhas,
e te aproxima da antiga morada -
é na distância que crestam luzes,
e o tempo se cobre de sombra e sol.
deixa as sobras aos que padecem sob tua mesa
enquanto comes, delicadamente, a fortuna dos dias de sorte.
escrito a quatro mãos com Daiane Gasparetto, 4.ago.2009, msn, 13:45.