A ti, que secretamente pensas em mim
E na minha poesia como algo menor
Lanço a antítese: existe apenas a poesia
O que pode ser menor ou maior
É o julgamento que dela fazes
Que é como um muro de ideias que ergues
Entre ela e o teu coração amedrontado
É fado de poeta cavar em seu íntimo
O signo mínimo que possa reintegrá-lo
Ao seu tempo e seus companheiros
Mas é claro que um poema é um esforço
Cujo torso delgado, suas costelas-metáforas
Seus ossos-oxímoros, sua pele-palavra
Terá de resistir à prova do tempo e dos olhares
Ao divagares, pois, sobre o valor do que escrevo
Pergunta-te a ti, primevo, se algo ali te serve
(Pois pode acontecer do poema não ser teu)
“A poesia pertence a quem precisa dela”, disse
O carteiro ao poeta Neruda naquele filme inesquecível
E um poema que te for esquecível é como
Um transeunte que cruzas na rua
Cujo olhar mal percebeste: ali segue um universo comunicante
Indo ao encontro de outros que, talvez
Precisem mais de seu olhar que tua distração pode dar conta
Por fim, aponta em ti mesmo tuas dificuldades
Caso tenhas a mesma coragem de quem escreve
E percebe que a vida, em suas tragédias e glórias - todas passageiras
Apenas passa por ti, também transeunte
Indiferente se a olhaste nos olhos
Ou apenas te afastaste, ignorante.