"Meu reino por um cavalo!" - disse uma vez o monarca,
atado ao chão por uma arcada, a outra
atracada num céu deserto.
"Meu trono por um galope qualquer!" - diria mais tarde,
os olhos ardentes de água, tolo e
afogueado, no dia de sua estrela.
Eram dias daquela crença firme em cavalos alados,
e que o mínimo trotar tornava qualquer homem
num centauro lúbrico, irresistível.
"Meu chão por qualquer pasto invisível!" - rugiu na madrugada,
mas nada o demovia daquela ideia de que era um faminto.
Sentia nos ossos esbaterem-se borbulhos, a medula íngreme,
um instinto de morte, ou qualquer sorte modesta.
A festa de seu povo já estourava longe na manhã.
Foi quando se deu a perceber entranhado no chão, os pés
feito raízes aéreas, e outras forças etéreas evolando-se
através dos olhos e da boca, uma canção esquecida pairava,
a roca lendária fiava seu destino lírico, a aldrava em silêncio.
Renascia.