sexta-feira, abril 23, 2010

Soledade

no Soledade, os mortos cuidam
de seus mortos. despojos esparsos
aqui e acolá

tristíssimas indagações pairam
nas volutas enferrujadas dos gradis
e tudo o que se quis perde-se
na desesperança do cemitério,
sem sequer ser preciso adentrá-lo.
nenhum mistério anunciado ao portal,
nenhum halo para haurir seus umbrais coxos.

apenas o muxoxo em ruínas
da cidade, do entorno
sem saudade -

(o Soledade aguarda, morno, o estorno
inexorável da vida que se evadirá,
cedo ou tarde).

quarta-feira, abril 14, 2010

Sim

pra entender a luz do dia

uso toda cor, todo retalho

pra corrigir as malfeituras

suco de maçã, abraçar de manhã


abrir os olhos serve pra

firmar o coração, mirar o fundo

se for pra revirar o mundo,

mudo a direção


sou o ouro e a brisa

o estandarte, o vinho

canto pelo caminho

pra viver só é preciso nunca dizer não


pra libertar a maresia

vale rodopiar, tontear os olhos

pra desvendar a tua procura

lembra o que sonhou, conhece a tua dor

idéias novas são pra

clarear a indecisão, cegar o rumo

ter o futuro novamente inteiro em tuas mãos


seja o ouro e a brisa

o estandarte, o vinho

canta pelo caminho

pra viver só é preciso nunca dizer não


deixar levar

abrir-se o tempo

não ser senão

por um momento.

Quem sou eu

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Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.