sexta-feira, julho 24, 2009

matinais


das artimanhas que conheço,
nenhuma que meça o desperdício das manhãs
nada que indique o endereço absconso do sol
ou de seu conselho:
o solto evangelho dos hipogrifos,
os centauros de ébano, a ceia dos unicórnios,
a vazante que revela as ondinas sem rumo.


o anúncio pálido goteja no frio, sem audiência.
os olhos tornam-se gládios ocos,
sem vestígio de milagre.
o orvalho ordenha-se indeciso
entre jóia e lágrima,
e há mais do que se pode contar
dos mistérios nos arbustos.


a muito custo consigo ordenar este relato,
um trato enviesado entre o horizonte,
e a linha vertical de tudo o que cai,
de todas as coisas que movem-se imperceptivelmente,
como entes hauridos de intermediação.


dos ondes em que anoiteço
nada que enderece ao longínquo hiato da aurora,
estas horas fustigadas de origem e âmbar,
havidas no incriado mundo que dorme ainda,
vergasta inclinado ao silício oculto
do dia recente, cujo choro primeiro
ninguém ouviu.


*poema provocado pelo tema "matinais", de Valério Fiel da Costa

Quem sou eu

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Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.